Fenaj registra uma agressão por dia contra jornalistas em 2022
  • 26.01
  • 2023
  • 17:00
  • Abraji

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Fenaj registra uma agressão por dia contra jornalistas em 2022

A violência política no Brasil atingiu de forma brutal os jornalistas e comunicadores do país. O número de ataques no ano passado chegou a 376, e o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o principal agressor, sendo responsável por 104 casos (27,66% do total). Os dados fazem parte do Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2022, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) nesta quarta-feira (25.jan.2023), no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.

Realizado desde 1989, o informe da Fenaj aponta redução de 12,53% nos ataques: foram 54 casos a menos do que os 430 registrados em 2021. No entanto, a queda não significa que os profissionais de mídia tiveram um ambiente mais tranquilo para exercer seu trabalho. Houve crescimento de 133,33% nas ocorrências mais graves (77 casos).

“Os ataques contra jornalistas no Brasil estiveram muito interligados à violência política generalizada no país no ano passado, sobretudo no contexto da cobertura das eleições gerais. O que mais nos chamou atenção foi o aumento das agressões diretas, como  ameaças, hostilização, intimidações e agressões físicas, cometidas em grande maioria por pessoas comuns, principalmente, pelos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro”, avalia Samira de Castro, presidente da Fenaj.

O tipo de ataque com maior incidência em 2022 permanece a tentativa de descredibilizar a imprensa. Francisco Rolfsen Belda, um dos líderes do The Trust Project no Brasil, lembra que “a agressão verbal sistemática contra jornalistas é uma forma de violência não só contra os profissionais mas também e principalmente contra o próprio jornalismo”. Para Belda, “cada ataque se multiplica de modo exponencial a partir de compartilhamentos virais nas redes, o que confere a essa violência um caráter sistêmico, de efeito altamente amplificado”.

“No plano mais imediato, esse tipo de violência, que é também moral e emocional, pode pretender intimidar apenas as pessoas que fazem, consomem e se valem do jornalismo como fonte de informação. Mas no fundo é um ataque ao próprio direito à informação e aos compromissos sociais que o jornalismo representa. É uma violência que visa disseminar uma espécie de ódio ao compromisso com a verdade factual”, complementa Belda, que também é professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru (SP).

De acordo com o relatório, nos quatro anos em que esteve no poder, Bolsonaro, além de ser o principal autor desse tipo de ataque, incentivou seus apoiadores a atacar a imprensa e seus profissionais. Pelos números da Fenaj, de 2019 a 2022, o ex-presidente foi o autor de 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média de 142,5 agressões por ano - um ataque a cada dois dias e meio.

Ataques cibernéticos a veículos de comunicação tiveram crescimento de 125%, passando de quatro para nove episódios. Censura ocupou o terceiro lugar no tipo de violação catalogada pela Fenaj (15,695).

O Centro-Oeste permanece sendo a região com maior número de atentados à liberdade de imprensa. “Dos 376 episódios registrados (excluídos 99 em que não se aplicou o critério regional), 98 ocorreram na região, representando 26,06% do total”, explica a Fenaj. O Distrito Federal foi a unidade federativa campeã em números de casos, com 88 ocorrências (30,57%). No Sudeste, São Paulo foi o estado mais violento, com 48 casos, três a mais que em 2021. Rio Grande do Norte aparece como o de menor incidência de ataques, com apenas 0,34% do total.

A Fenaj também analisou os ataques de gênero. Em 2022, do total de jornalistas vítimas de agressões, 222 (69,37%) foram do sexo masculino e 80 (25%) do sexo feminino. Em 18 casos (5,63%), não foi possível a identificação de gênero.

Foram contabilizados dois assassinatos: o do jornalista britânico Dom Phillips, executado junto com o indigenista Bruno Pereira, na região do Vale do Javari, próxima à tríplice fronteira do Brasil, Peru e Colômbia; e o do comunicador Givanildo Oliveira da Silva, criador do portal de notícias Pirambu News, do Ceará. Os crimes são acompanhados pelo Programa Tim Lopes, da Abraji.

Como cada organização tem metodologias diferentes, o relatório da Unesco publicado na semana passada registrou três assassinatos no Brasil, incluindo a morte de Luiz Carlos Gomes em Italva, Rio de Janeiro. Gomes, que era empresário e dono do Jornal Tempo News, foi assassinado a tiros enquanto passava de carro com sua esposa, que não foi atingida. Os disparos foram realizados por dois homens em uma motocicleta que fugiram do local logo em seguida.

A investigação desse caso ainda não foi concluída, e fontes dizem que o crime não tinha relação com a atividade jornalística. Já a Repórteres Sem Fronteiras incluiu no seu informe anual três execuções: a de Givanildo, a de Dom e a de Bruno, considerado pela RSF como um colaborador de uma empresa de mídia. O relatório da Abraji será publicado em março de 2023.

Metodologia

Para produzir o documento, a Fenaj reuniu as denúncias que chegaram por meio dos seus sindicatos, sejam elas enviadas pelas vítimas e/ou por colegas. A pesquisa também enumera episódios compilados a partir de notícias publicadas em veículos. Só depois as ocorrências são agrupadas e divididas em categorias de tipos de violência (atualmente são 13).

A Fenaj explica que “um mesmo episódio pode resultar em mais de uma vítima, quando se trata de agressão direta a jornalista ou em mais de uma citação, quando se trata de ataque genérico à imprensa. Do mesmo modo, em um episódio, atingindo uma ou mais vítimas, podem ocorrer mais de um tipo de agressão”.

Para acessar o relatório, clique aqui.
 

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