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Violência de gênero contra jornalistas

Violência de gênero contra jornalistas

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Em 2020, 37,5% dos 367 ataques a jornalistas e profissionais da imprensa brasileira foram direcionados a mulheres. Esses dados, coletados pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em parceria com a rede Voces del Sur, revelam as dificuldades de ser comunicadora no Brasil, especialmente em um contexto de pandemia, desinformação e constantes investidas dos governantes contra a credibilidade jornalística. 

Os números apontam que, ao exercer seu trabalho, as jornalistas foram alvos constantes de agressões (44,3%), restrições na internet (34,4%), discursos estigmatizantes (16,4%) e processos judiciais (4,9%). Cada forma de violência buscou, a seu modo, diminuir, humilhar e silenciar as vítimas – o que representa, de maneira clara, uma violação da liberdade de imprensa e do direito democrático à livre expressão. 

Contudo, tais estatísticas ainda deixam nas sombras as diferentes faces da violência de gênero contra profissionais de imprensa. Por isso, a Abraji tem se dedicado a monitorar casos de violência contra mulheres jornalistas, comunicadoras ou meios de comunicação com viés feminista ou voltados para pautas femininas. Também estão no radar situações em que a sexualidade, gênero ou a orientação sexual se tornam combustível para atacar comunicadores de maneira geral, considerando também homens cisgêneros, pessoas transgêneras, não-binárias e outros. 

O projeto Violência de gênero contra jornalistas, que conta com o apoio da UNESCO, é uma derivação do monitoramento de ataques à imprensa, feito anualmente pela Abraji usando os indicadores da rede Voces Del Sur.

Metodologia

O objetivo geral do monitoramento é lançar luz sobre o cenário de violência que atinge mulheres jornalistas e membros da imprensa, especialmente quando as agressões assumem características de gênero. Além de dimensionar o problema, a pesquisa pretende identificar os principais autores das agressões e elucidar mecanismos geradores da violência. A partir desse diagnóstico, é possível propor ações e intervenções mais efetivas. 

Ao monitorar essas situações, a Abraji acompanha as respostas do governo brasileiro às metas 5 (Igualdade de gênero) e 16 (Paz, justiça e instituições fortes) para a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), cumprindo, dessa maneira, o papel fiscalizador do jornalismo em sociedades democráticas.

São muitos os desafios de realizar uma pesquisa nesses moldes. Os obstáculos envolvem, por exemplo, a dificuldade em definir um ataque de gênero e a subnotificação de casos, provocada pelo estigma que acompanha o ato de denunciar uma violência sofrida. 

Para solucionar o problema, o projeto se esforçou para ampliar seus meios de coleta, de modo a chegar mais perto possível do cenário real de ataques às jornalistas e com base em gênero. Assim, a metodologia combinou diferentes técnicas para compor o banco de dados: alertas de notícias, extração de dados do Twitter e denúncias de parceiros, veículos noticiosos e de profissionais da comunicação.

A fim de entender os contextos de cada episódio e também identificar tendências gerais, cada caso de violência foi registrado em uma planilha composta por 43 variáveis quantitativas, abrangendo: informações sobre a(s) vítima(s), meio de comunicação em que trabalham, tipo de cobertura jornalística que ensejou o ataque, informações sobre o(s) agressor(es), sobre o tipo de agressão, aprofundamento nos casos de agressões no meio digital e análise dos componentes de gênero identificados no ataque.

Esse sistema de análise define a violência de gênero a partir de seis indicadores principais: assédio e violência sexual, ameaça de estupro, divulgação ou manipulação de imagens, ataque à reputação e à moral, além de outras situações que podem compreender violência física e diferentes formas de constrangimento ou censura.

Outras situações de violência que não estão explicitamente ligadas ao gênero, mas que vitimam comunicadoras, também entram no escopo da iniciativa. Esses episódios podem envolver assassinato, sequestro, desaparecimento forçado, detenção arbitrária, tortura, tentativas de homicídio e atentados (contra meios e pessoas), assassinato de familiares, restrições ao acesso à informação, uso abusivo do poder estatal, agressões físicas, destruição de equipamentos, processos civis e penais, restrições na internet, ameaças, intimidações e ciberameaças e discursos estigmatizantes. Esta última categoria identifica movimentos coordenados de ataque, campanhas de desinformação ou declarações de autoridades e figuras proeminentes. Além disso, um ataque pode envolver mais de um tipo de agressão, segundo a classificação feita. 

Também dedicamos especial atenção aos ataques ocorridos no meio digital, tendo em vista que a maior parte deles, em 2020, vitimaram mulheres. Assim, as restrições na internet foram desagregadas em 12 tipos, envolvendo desde hackeamentos até ataques de negação de serviço e doxing (divulgação de dados pessoais). Além disso, foram registradas informações sobre as plataformas que serviram de palco para os episódios de violência. Com esses e demais dados coletados, foi possível identificar o papel que atores políticos assumem na dinâmica de hostilização de jornalistas e profissionais de imprensa. Por isso, os agressores foram classificados como: estatais, paraestatais, não estatais, grupos às margens da lei e não identificados.

O monitoramento Violência de gênero contra jornalistas será publicado em formato de relatório no início de 2022. Até lá, os resultados parciais serão disponibilizados nesta plataforma on-line. Uma versão do banco de dados sem revelação dos nomes das vítimas também pode ser baixada na aba “Dados”. O objetivo do projeto é gerar mudanças reais que inspirem outros comunicadores, pesquisadores e organizações a fazer o mesmo.

Dúvidas? Entre em contato: [email protected].