Polícia Federal prende suspeito de ser mandante de assassinato de Bruno e Dom
  • 08.07
  • 2022
  • 14:26
  • Abraji

Liberdade de expressão

Polícia Federal prende suspeito de ser mandante de assassinato de Bruno e Dom

Foto de capa: Operação policial na região de Atalaia do Norte para obter pistas dos assassinatos. Pedro Prado/Abraji.

Suspeito de tráfico de drogas e compra ilegal de pescado, o peruano Rubens Villar Coelho, conhecido como Colômbia, foi preso nesta quinta-feira (7.jul.2022) ao se apresentar à Polícia Federal, em Tabatinga (AM). Ele é apontado pela investigação do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips como um dos possíveis mandantes do crime.

Ao ser informado de que era investigado por ligação com os homicídios do jornalista britânico, do indigenista e também do ex-colaborador da Funai Maxciel Pereira, Coelho se apresentou às autoridades e foi detido, em flagrante, portando documentos falsos crime com pena inafiançável que pode passar de quatro anos de detenção. As informações são do repórter Sérgio Ramalho, enviado ao Vale do Javari pelo Programa Tim Lopes, da Abraji, para apurar as circunstâncias da morte da morte de Dom.

Sempre em trânsito entre Brasil, Peru e Colômbia, Colômbia é suspeito de financiar expedições de caça e pesca predatórias na Terra Indígena (TI) do Vale do Javari. A Abraji mostrou em reportagem a relação entre o homem detido nesta sexta-feira e Amarildo Oliveira, o Pelado, preso preventivamente por envolvimento na execução de Dom e Bruno.

Em depoimento ao delegado Domingos Sávio Pinzon Rodrigues, responsável pela investigação, Colômbia teria dito que nasceu em Benjamin Constant, cidade vizinha a Atalaia do Norte (AM), e depois disse ter nascido em Letícia, situada em território colombiano. Os policiais então verificaram que o suspeito tinha duas identidades: uma brasileira e outra da Colômbia.

Em seguida, o superintendente da PF na região, Eduardo Fontes, disse em entrevista coletiva que Colômbia teria uma terceira identidade peruana —informação que ainda precisa ser confirmada pelo governo local.

A expectativa é a de que a polícia peça prisão temporária de Colômbia para aprofundar as investigações.

Ainda nesta quinta-feira, a juíza responsável pela ação criminal relativa ao homicídio de Dom e Bruno, Jacinta Silva dos Santos, decidiu enviar o caso para a Justiça Federal. A magistrada da comarca de Atalaia do Norte atendeu a um pedido feito pelo Ministério Público do Amazonas e considerou que o caso é de competência federal por envolver direitos indígenas. A Justiça Federal ainda precisa aceitar o caso.

O que investigavam Dom Phillips e Bruno Pereira

O indigenista Bruno Pereira estava mapeando as ramificações na prefeitura de Atalaia do Norte (AM) do grupo envolvido em atividades ilegais de caça e pesca predatórias na Terra Indígena (TI) do Vale do Javari. A revelação foi feita por reportagem do Programa Tim Lopes, da Abraji, que investiga a morte de jornalistas durante o exercício profissional.

O levantamento vinha sendo feito há pelo menos dois meses em parceria com ativistas ambientais e com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Embora essa não fosse uma atribuição do indigenista, Bruno tinha o hábito de fazer apurações paralelas desde que começou a trabalhar na coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) na região.

Um aliado de Bruno Pereira identificou os supostos elos entre a atividade ilegal e o poder público municipal, mostrou uma segunda reportagem do Programa Tim Lopes. Entre os suspeitos indicados na lista do indigenista figuram os servidores Jânio Souza e Laurimar Alves, conhecido como Caboclo. Ambos foram nomeados para cargos de confiança pelo prefeito Denis Paiva (UB).

De acordo com um dos colaboradores do indigenista, Pereira planejava entregar cópias do relatório com os nomes dos suspeitos e os cargos ocupados na administração municipal ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e ao jornalista Dom Phillips.

A morte do jornalista britânico foi a quinta incluída no Programa Tim Lopes. Phillips acompanhava o indigenista em uma expedição pelo Vale do Javari, pois estava escrevendo um livro sobre como salvar a Amazônia, em que fazia referência a violações de direitos humanos na região.

Assinatura Abraji