Repórteres Sem Fronteiras registra 580 casos de ataques contra a imprensa em 2020
  • 25.01
  • 2021
  • 08:00
  • Abraji

Liberdade de expressão

Repórteres Sem Fronteiras registra 580 casos de ataques contra a imprensa em 2020

A ONG internacional Repórteres sem Fronteiras publicou, nesta segunda-feira (25.jan.2021), a última parte do balanço que analisa os ataques do governo Bolsonaro contra a imprensa. O relatório conclui que as “condições de trabalho dos jornalistas se deterioraram consideravelmente por causa da constante pressão do presidente e de seus aliados”.

Segundo a RSF, foram 580 ataques no total. Os agentes públicos que mais agrediram a imprensa são três representantes da família Bolsonaro: o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), com 208 ataques; Jair Bolsonaro (sem partido), com 103; e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), com 89.

Na primeira semana de 2021, tendo como contexto o agravamento da pandemia, a Abraji mostrou que o chefe do executivo do país deu sinais de que continuaria com os insultos e as ameaças contra a mídia e os profissionais de imprensa. 

Para a RSF, esse movimento no começo do ano demonstra como Bolsonaro não vai mudar a estratégia de estigmatizar e desqualificar a mídia:

“A hostilidade demonstrada por Jair Bolsonaro não é novidade. Ela reflete como o presidente, sua família e seus apoiadores refinaram, ao longo do ano passado, um sistema focado em desacreditar a imprensa e silenciar jornalistas críticos e independentes, considerados inimigos do Estado”, diz o documento.

A RSF lembra que o “sistema Bolsonaro” conta com “várias mãos” para mirar a imprensa. A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, é a campeã, com 19 alertas identificados. Dos 22 ministros do governo brasileiro, metade já disparou ofensas contra jornalistas. Ainda segundo o monitoramento da ONG, o Grupo Globo foi o maior alvo da ofensiva, seguido pela Folha de S.Paulo, Grupo Estado e a CNN Brasil. 

 

Para Marcelo Träsel, presidente da Abraji, atacar a imprensa é uma característica de políticos autoritários, sobretudo quando lhes faltam resultados positivos para mostrar à população.

"O presidente da República, seus filhos e seus ministros são incapazes de oferecer soluções para a pandemia de covid-19 e para a crise econômica, por isso tentam desviar a atenção dos brasileiros para teorias da conspiração e inimigos imaginários. Os mais de 500 ataques de integrantes do governo federal contra a imprensa demonstram uma total ausência de compromisso com os princípios mais básicos de uma democracia", avalia Träsel.

Emmanuel Colombié, diretor do Escritório América Latina da RSF, concorda que, no contexto de pandemia, o governo federal elegeu a imprensa como o grande inimigo a ser combatido.

“É importante lembrar também que no intuito de minimizar os efeitos do novo coronavírus, o governo federal brasileiro promoveu em 2020 desinformação no formato de teorias conspiratórias e pseudo tratamentos contra-indicados pela comunidade científica. Ao mesmo tempo, fragilizou políticas de transparência, dificultando o acesso a dados públicos, em particular na área da saúde", explicou.

O balanço da RSF também aponta que mulheres sofreram mais ataques (34) do que os homens (29). "A estratégia abjeta de assediar jornalistas mulheres evidencia o machismo covarde do grupo que ocupa o Planalto", observa o presidente da Abraji.

As visualizações dos dados coletados pela RSF durante todo ano foram desenvolvidas em parceria com a Volt Data Lab, agência pioneira em jornalismo orientado por dados no Brasil.

 

 

O informe da RSF lista casos emblemáticos que envolveram a imprensa e o governo Bolsonaro em 2020:

1. Ataques, de cunho sexista e misógino, às mulheres. Como símbolo da tática, a RSF lembra o caso da repórter Patricia Campos Mello, da Folha de S. Paulo e diretora da Abraji;

2. O Palácio da Alvorada como palco de humilhações públicas de jornalistas, que levaram os maiores órgãos de imprensa do Brasil a suspender envio de suas equipes ao local;

3. Restrições e apagão de dados do Ministério da Saúde sobre o combate à covid-19, que provocaram a criação de um consórcio inédito para monitorar, via secretarias estaduais de saúde, casos de mortos e infectados pelo coronavírus;

4. Aumento de processos judiciais abusivos contra jornalistas e meios de comunicação brasileiros, como o caso do editor e fundador do Jornal GGN, Luís Nassif. O documento cita, ainda, informações do projeto Ctrl+X, da Abraji, que catalogou ao menos 24 casos de censura de reportagens e de pedidos, por parte de candidatos, de remoção de conteúdo de sites e de redes sociais; 

5. Falta de transparência e de critérios técnicos na distribuição das verbas publicitárias, com sinais de órgãos independentes e oficiais cada vez mais politizados.

Leia aqui o documento da RSF na íntegra.

Fenaj

Nesta terça-feira, 26.jan.2021, a Federação Nacional dos Jornalistas vai lançar seu informe anual sobre agressões diretas a jornalistas no Brasil, em 2020. Os dados serão publicados em plataforma virtual, com transmissão ao vivo pelo Facebook da Fenaj.


foto principal: Agência Brasil

foto de capa: reprodução

Assinatura Abraji