Primeiro painel de seminário virtual debate segurança do jornalista na pandemia
  • 12.05
  • 2020
  • 10:00
  • Abraji

Liberdade de expressão

Primeiro painel de seminário virtual debate segurança do jornalista na pandemia

“O jornalista passa hoje por um estresse semelhante ao de uma guerra”, afirmou Judith Matloff,  pioneira no treinamento de segurança para jornalistas em todo o mundo. A ex-correspondente norte-americana foi uma das convidadas do debate on-line organizado pela Abraji e pela Embaixada dos Estados Unidos, nesta terça-feira (12.mai.2020).

Durante a sessão “Segurança dos jornalistas na pandemia”, no seminário virtual “Liberdade de imprensa durante a pandemia”, Matloff, que cobriu conflitos na África e regimes repressivos, avaliou que o estresse emocional e a estratégia de governos para atacar o jornalismo remontam à exata pressão que se sofre em épocas de guerra. “Você assiste a mortes o tempo todo, a mídia está sob ataque, autoridades muitas vezes culpam o mensageiro, e você não sabe quando tudo vai acabar”, disse.

A jornalista e professora Angelina Nunes, conselheira da Abraji e coordenadora do Projeto Tim Lopes, lembrou o perigo para jornalistas durante a cobertura de surtos e epidemias. Nunes sabe do que fala: ela chegou a ser internada por ter tido dengue hemorrágica quando era repórter. Mas dimensiona o momento atual como o mais crítico. “Desde 2013, quando viramos alvo de polícia e militantes, os jornalistas sofreram ataques. Mas agora as próprias autoridades fomentam as agressões - virtuais ou físicas. O objetivo é tirar a credibilidade do jornalismo e fragilizar os profissionais”, explicou Nunes.

Judith Matloff, Angelina Nunes e Daniel Bramatti participam do primeiro painel do seminário "Liberdade de imprensa durante a pandemia" (Foto: Reprodução)

O mediador Daniel Bramatti, conselheiro da Abraji e editor do Estadão Dados, núcleo de jornalismo de dados do jornal O Estado de S.Paulo, alertou que, nos Estados Unidos, militantes contra o isolamento social estão indo às ruas fortemente armados. Judith Matloff explicou que os manifestantes norte-americanos também participam dos atos sem máscara e, com isso, a preocupação é que eles também contaminem as equipes jornalísticas. “É um dilema para a mídia, que precisa cobrir esses protestos, mas também tem de garantir a integridade física dos jornalistas”, complementou.

Além de recomendar máscaras protetoras, Matloff fez sugestões pontuais às equipes:

  • Levar máscara extra em mochilas;
  • Preferencialmente usar a proteção total do rosto;
  • Usar microfones longos, tipo “vara de pau”;
  • Fornecer máscara para entrevistado;
  • Não exagerar em planos de câmera, fazendo vários ângulos. Não se pode ter cobertura de “luxo” na pandemia. "Faça o mais simples e já está ótimo";
  • Equipes que cobrem protestos precisam marcar um ponto de referência para que possam se reencontrar, em caso de agressão;
  • Ser solidário com o colega freelancer que, muitas vezes, está nas ruas sem  instrumentos de proteção.

Assédio online e saúde mental

Bramatti destacou ainda como o linchamento virtual dos jornalistas ganhou impulso no Brasil nos últimos dois anos. Nunes lembrou que, à medida que esses ataques se intensificaram, as mulheres jornalistas passaram a ser mais visadas pelas milícias digitais, que divulgam informações pessoais das repórteres. “Faça print de tudo e registre boletim de ocorrência”, aconselhou ela. 

Matloff também ressaltou que, nos Estados Unidos, a recomendação é construir provas, documentar todas as mensagens e se inteirar de técnicas de segurança digital, recorrendo a táticas simples, como fazer uso apenas do e-mail profissional em vez do pessoal.

Questionada sobre o futuro das redações pós-pandemia, Nunes avaliou que os espaços e as formas de trabalhar terão que ser reconfigurados, combinando apurações coletivas entre redações e a aproximação com coletivos independentes de jornalismo. “Esses espaços estão fazendo uma cobertura sensacional da pandemia nas comunidades”, opinou.

Os cerca de 350 participantes do painel também pediram dicas para preservar a saúde mental dos jornalistas durante a cobertura da covid-19. “É a conexão social que ajudará na resiliência emocional. Marque encontros virtuais na sexta-feira com seus amigos, construa sua rede de apoio, bata um papo com alguém durante o dia. Tente viver hoje, produzir a reportagem de hoje e não se preocupar com o futuro, pois isso gera mais estresse”, recomendou Judith Matloff.

Ainda nesta terça-feira (12.mai.2020), outros dois painéis dão sequência ao seminário “Liberdade de imprensa durante a pandemia”. Das 14h às 15h30, o tema é o futuro dos meios de comunicação após a crise mundial de saúde. Aqui tem o link da transmissão. Depois, das 16h30 às 18h, o debate gira em torno do combate à desinformação durante a pandemia. Para mais informações, acesse aqui

Todos os painéis ficarão disponíveis no site da inscrição a partir desta quarta-feira (13.mai.2020), durante uma semana.

Assinatura Abraji