
- 02.10
- 2025
- 11:53
- Reinaldo Chaves
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O Caminho para a Neutralidade de Emissões: Oportunidades de Reportagem e os Fundamentos das LTS
Matéria atualizada em: 06 de outubro de 2025 - prorrogação das inscrições
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e o WRI Brasil lançaram o projeto “O Brasil pós-COP30: Caminhos para a neutralidade de emissões”, uma iniciativa crucial para fomentar a cobertura qualificada sobre a transição climática brasileira. O objetivo principal é qualificar a cobertura sobre as Estratégias Climáticas de Longo Prazo (LTS) — instrumentos essenciais previstos no Acordo de Paris que formalizam e guiam a descarbonização de um país — conectando evidência científica, dados setoriais e histórias humanas.
O webinar "Capacitação sobre LTS pré-COP30”, realizado em 1º de outubro, pode ser acessado no canal de Youtube da Abraji. O webinar ensina sobre as LTS e explica como participar da seleção para o financiamento de 4 reportagens sobre o tema. Para acessar a transmissão, clique aqui. Para acessar o material apresentado durante o webinar, clique neste link.
O webinar enfatizou que as propostas de reportagem devem conectar as Estratégias de Longo Prazo com a vida real. Para auxiliar os jornalistas foi recomendado pelos palestrantes focar em soluções e não apenas em impactos (jornalismo de soluções), priorizar a justiça climática e as dimensões interseccionais das vulnerabilidades.
É vital evitar o catastrofismo e traduzir os conceitos técnicos para o cidadão comum, mostrando como as políticas de baixo carbono podem, além de evitar o desastre climático, melhorar a vida cotidiana. Podem ser histórias explicativas sobre o cenário atual, ou temas investigativos. As duas possibilidades podem se inscrever.
Os organizadores reforçaram que a ausência de LTS em determinados setores também pode ser um mote de pauta, mostrando os prejuízos da falta de planejamento. As reportagens devem buscar a diversificação de fontes e a equidade de gênero, etnia e geografia. O time técnico e científico do WRI Brasil estará disponível para auxiliar e tirar dúvidas durante a produção das reportagens selecionadas. Podem ser acessados pelo email [email protected].
A transição para uma economia com neutralidade de emissões em 2050 é reconhecida como a maior pauta do nosso tempo. Esta não é apenas uma história ambiental, mas uma pauta transversal que redefine a economia, a política, as relações de trabalho e o nosso cotidiano. O jornalismo desempenha um papel fundamental nesse processo, não só traduzindo a complexidade para a sociedade e fiscalizando promessas, mas principalmente contando as histórias humanas por trás das metas e dos números.
Oportunidade de Bolsas e Cronograma Crucial
O projeto financiará quatro reportagens originais sobre a transição climática brasileira. Cada proposta selecionada receberá R$ 8.000 e contará com o apoio de mentores técnicos. O período de inscrições iniciou-se em 9 de setembro de 2025 e tem seu prazo final em 12 de outubro de 2025, na próxima segunda-feira. É imperativo que os jornalistas interessados submetam suas propostas através do formulário online até o final do dia 6 de outubro.
Para participar, as propostas devem incluir uma descrição detalhada da pauta, cronograma e orçamento, além de uma carta de compromisso de publicação assinada por um veículo de imprensa. Embora a carta possa ser enviada no ato da inscrição, os candidatos pré-selecionados terão um prazo de três dias úteis para fornecê-la, caso não a tenham feito previamente – então, é permitido se inscrever sem enviar a carta de compromisso. Os resultados serão divulgados em 17 de outubro de 2025; e as reportagens financiadas devem ser publicadas até 20 de dezembro de 2025.
Os critérios de seleção consideram adequação ao tema, originalidade, impacto social, criatividade, previsibilidade de execução e diversificação de fontes, priorizando-se também critérios de gênero, etnia, raça e região.
O webinar
Em 1º de outubro de 2025, o webinar gratuito "Capacitação sobre LTS pré-COP30" foi realizado pela Abraji e WRI Brasil, das 15h às 17h, com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre o edital e explicar os fundamentos das Estratégias Climáticas de Longo Prazo (LTS) no contexto brasileiro.
O evento contou com a participação de especialistas do WRI Brasil e Abraji, incluindo Miriam Garcia (Gerente de Políticas Climáticas no WRI Brasil), Marcelo de Medeiros (Coordenador de Ação Climática no WRI Brasil) e Marcelo Träsel (Jornalista, Professor na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Presidente da Abraji no biênio 2020-2021).
O webinar ressaltou que a LTS, que significa Estratégias Climáticas de Longo Prazo, é um acrônimo importante para o entendimento da política climática. Este plano de longo prazo deve orientar o país a alcançar a neutralidade de emissões (Net Zero) até 2050.
O cerne da discussão no webinar foi a necessidade de ação urgente e a Estratégia Climática de Longo Prazo como um guia para essa transformação.
A Ciência do 1,5°C e o Net Zero
O webinar destacou a importância de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, conforme estabelecido no Acordo de Paris em 2015. Os relatórios do IPCC alertam que, para evitar os piores impactos, o aquecimento global deve ser limitado o máximo possível e com urgência, pois cada décimo de grau importa.
Para manter o 1,5°C ao alcance, o consenso científico exige que as emissões globais atinjam o Net Zero (emissões líquidas zero) até 2050. O Net Zero significa reduzir as emissões brutas a uma pequena quantidade de emissões residuais, que podem ser absorvidas pela natureza ou tecnologias de remoção de carbono. Para atingir essa meta, as emissões globais deveriam ter um pico em 2025, seguido por uma redução de 43% até 2030 e 60% até 2035, em comparação a 2019. A tarefa é hercúlea, visto que hoje a energia de fontes fósseis ainda representa 80% da energia global.
LTS como Guia de Desenvolvimento
A LTS e as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) são instrumentos estabelecidos pelo Acordo de Paris, mas possuem naturezas diferentes. As NDCs são metas de curto prazo (ciclos de cinco anos) e tendem a refletir avaliações instantâneas do governo no poder. Por outro lado, a LTS é uma estratégia de longo prazo (até 2050 ou 2060), recomendada pelo Artigo 4 do Acordo de Paris.
A principal função da LTS é ser um guia orientador para que os países possam atingir o Net Zero, exigindo um plano transformacional, e não apenas mudanças incrementais.
A LTS deve:
- Integrar-se com outros planos: Deve conversar com o Plano Clima, o Plano de Adaptação, o Plano de Transformação Ecológica e outras estratégias de desenvolvimento de longo prazo, evitando duplicação de esforços.
- Ser uma Estratégia Robusta de Desenvolvimento: A descarbonização não deve ser vista como um custo, mas como um instrumento de desenvolvimento socioeconômico e aumento da qualidade de vida. Cerca de 85% das LTS submetidas globalmente já destacam oportunidades de crescimento econômico.
- Ser Focada na Transição Justa: O conceito de transição justa é crucial, garantindo que as pessoas importem. A estratégia deve abordar como a transição será feita, reduzindo desigualdades, promovendo a qualificação (upskilling) dos trabalhadores e gerando empregos verdes, especialmente para aqueles mais impactados pela mudança climática.
O status do Brasil
O Brasil ainda não submeteu formalmente sua LTS ao secretariado da UNFCCC. Contudo, a NDC do Brasil de 2024, lançada na COP29, já anuncia a meta de buscar a neutralidade climática (Net Zero) em 2050. O Plano Clima é a âncora doméstica da NDC, coordenando ações de mitigação e adaptação de curto, médio e longo prazo.
O Plano Clima, no entanto, não é a LTS completa. Ele está focado principalmente em como o país alcançará a meta da NDC de 2035. A importância do Brasil submeter sua LTS reside em explicitar a trajetória e a modelagem necessárias entre 2035 e 2050.
Focos de Reportagem: Energia e Indústria
Os dois temas elegíveis para as bolsas de reportagem da Abraji e WRI Brasil foram selecionados por sua relevância crítica na trajetória de longo prazo do país (2035–2050): Tema 1: Energia (oferta e demanda) e Tema 2: Indústria (setores difíceis de descarbonizar).
Tema 1: Energia O setor de energia no Brasil, ao contrário do cenário global (onde é responsável por 75% das emissões), tem uma parcela menor, pois as emissões brasileiras são dominadas pelo uso da terra (LULUCF) e agropecuária. Entretanto, espera-se que o setor de energia veja um aumento de emissões devido ao crescimento projetado da demanda e da expansão do parque industrial, conforme o Plano Decenal de Expansão de Energia 2034 (PDE 2034).
Alavancas de Transição para Reportagem
- A coerência entre a expansão de energias renováveis (eólica, solar, bioenergia) e a redução da intensidade de carbono por kWh.
- O papel do gás, reservatórios ou outras medidas para garantir a segurança energética, considerando a necessidade de afastamento dos combustíveis fósseis.
- A integração do hidrogênio de baixo carbono como vetor estratégico.
- Como endereçar a pobreza energética e a justiça climática na democratização do acesso à energia.
- O papel e o potencial da bioenergia, considerando o impacto humano e o uso da terra, especialmente na Amazônia.
Tema 2: Indústria – Setores Difíceis de Descarbonizar (Hard-to-Abate) Setores como aço, cimento, alumínio, vidro e óleo e gás são chamados de hard-to-abate (difíceis de descarbonizar) devido aos seus processos térmicos e químicos intensivos. Sem reduções profundas nesses setores, a meta de neutralidade de emissões até 2050 não é sustentável.
A retomada do crescimento industrial, essencial para o desenvolvimento socioeconômico brasileiro e geração de empregos, deve ocorrer sem o aumento de emissões de GEE. Isso demanda uma diminuição da intensidade de carbono do PIB.
Alavancas de Transição e Pautas Sugeridas
- Tecnologias-chave: Eficiência, eletrificação do calor de processo, combustíveis de baixo carbono (hidrogênio), CCS (Captura e Armazenamento de Carbono) e circularidade. O CCUS (Captura, Uso e Armazenamento de Carbono) é uma alavanca fundamental para a indústria.
- Financiamento e Padrões: Quais são os gargalos do financiamento para a transição da indústria hard to abate? Quais sinais de demanda (compras públicas, padrões, rotulagem) existem para "produtos verdes" (aço/alumínio/ligantes de baixo carbono)?.
- Riscos Sociais e Transição Justa: Como mitigar os riscos sociais (empregos, qualificação, governança) da transição industrial?. A discussão sobre upskilling (requalificação da força de trabalho) é fundamental para uma indústria verde no Brasil.
Cronograma
Inscrições: de 9 de setembro a 12 de outubro de 2025.
Divulgação dos selecionados: 17 de outubro de 2025.
Prazo de publicação: 20 de dezembro de 2025.
Inscrições neste formulário.
Leia aqui o edital completo com todas as regras em detalhes.
Leia aqui um modelo de carta de compromisso que pode ser enviada ou não no momento da inscrição.
Dúvidas sobre o edital podem ser enviadas para [email protected].