• 30.01
  • 2012
  • 13:03
  • Natalia Mazzote

Maratona de audiências judiciais prejudica produção de reportagens do site Congresso em Foco

Publicado em 30 de janeiro de 2012 no Blog do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas

Logo Congresso em FocoComeçou na sexta-feira, 27 de janeiro, a maratona de audiências em processos enfrentados pelo site de notícias Congresso em Foco, alvo de uma ofensiva judicial após publicar uma série de reportagens sobre a existência de salários acima do teto constitucional pagos a políticos, autoridades e servidores no Executivo, Judiciário e Legislativo, informou a publicação online.

Orientados pelo Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindilegis), que deixou advogados à disposição, 43 servidores cujos nomes foram divulgados na lista dos que ganham acima do teto ajuizaram ações idênticas por danos morais na justiça contra a página eletrônica. Repórteres do Congresso em Foco precisarão acompanhar advogados em dezenas de audiências de conciliação idênticas em horários sucessivos e, às vezes, simultâneos, prejudicando a produção de reportagens.

A estratégia dos servidores, considerada “má fé” pela OAB, tem como objetivo intimidar e elevar os custos do Congresso em Foco, além de impossibilitar a prestação de depoimento em todos os casos, graças à grande quantidade de ações em locais distintos, de acordo com entidades jornalísticas.

O caso é mais um exemplo do risco, apontado por diversas organizações internacionais, da justiça se tornar um instrumento de censura e cerceamento da liberdade de imprensa.

O site de notícias ressaltou ter publicado os nomes dos servidores que recebiam salários acima do teto constitucional após ouvir cinco juristas, entre eles Fábio Konder Comparato e Ophir Cavalcante, atual presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que apontaram o interesse público em relação à divulgação.

 


 

A Abraji repudia o cerco judicial ao site Congresso em Foco. Confiamos que a estratégia usada pelo Sindilegis será considerada litigância de má-fé pela Justiça do Distrito Federal e torce para que nenhuma decisão seja favorável à opacidade. Medidas como a tomada pelos servidores do Senado só contribuem para retardar a instalação de uma cultura de transparência no país.

O ministro do STF Carlos Ayres Britto já declarou, durante debate similar sobre servidores da prefeitura de São Paulo, que esse “é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano”. Entender esse pensamento é parte da evolução do país rumo a um patamar civilizado e maduro de transparência.

Assinatura Abraji