Jornalistas denunciam mais ataques no 1º turno das eleições
  • 20.11
  • 2020
  • 15:45
  • Abraji

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Jornalistas denunciam mais ataques no 1º turno das eleições

Foto: carro do jornalista Hernique Ternus, atingido por cabos eleitorais no Rio de Grande do Sul

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo registrou mais denúncias contra profissionais de imprensa ocorridas no 1º turno das eleições municipais, realizado em 15.nov.2020. Além dos casos publicados no início da semana, a Abraji recebeu relatos vindos do Rio Grande do Sul, Espírito Santo, de Pernambuco e do Grande ABC Paulista.

O jornalista Henrique Ternus, do jornal Repercussão, que cobre a área metropolitana de Porto Alegre (RS), conta que foi cobrir as eleições na cidade de Araricá. Por volta das 19h20, chegou à sede do Tribunal Regional Eleitoral, onde o prefeito reeleito Flávio Foss (PSL) comemorava o resultado com apoiadores.

Por ter denunciado casos de irregularidades na prefeitura da cidade, apontadas pelo Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, o jornal havia decidido não cobrir as eleições em Araricá por medo de represálias. No entanto, mudou de ideia e resolveu enviar equipe ao município com algumas precauções. 

Ternus, por exemplo, estacionou o carro em rua próxima para evitar aglomerações e manteve o motor ligado. Foi aí que um agressor se aproximou: “Ele puxou o trinco do carro até quebrar. Depois, deu dois socos no vidro que também quebrou, tirou os óculos do meu rosto, jogou dentro do carro e gritou que eu tinha de sumir da cidade”, contou. O repórter registrou Boletim de Ocorrência no dia 20.nov.2020. Os reparos do carro vão custar cerca de R$ 500. O jornal afirma que a polícia identificou o agressor como Maico Foss.
    
Na área metropolitana de São Paulo, Rafael Ventura, diretor de jornalismo do ABC do ABC, em Ribeirão Pires, informou que, no dia 13.nov.2020, jornaleiros que distribuem a publicação gratuitamente foram perseguidos no distrito de Ouro Fino Paulista por apoiadores do candidato à prefeitura Kiko Teixeira (PSDB), derrotado nas urnas. 

Segundo Ventura, os dois funcionários fugiram para o carro do jornal, mas acabaram sendo agredidos com socos. Os militantes levaram todos os jornais. A dupla não teve ferimentos graves e registrou Boletim do Ocorrência. A Associação Nacional dos Jornais emitiu nota e afirmou que “aguarda a rápida apuração do episódio e punição dos culpados, nos termos da lei”.

A jornalista Danielle Muruci de Oliveira, da Rádio 90,5 FM, também procurou uma delegacia da cidade de Guaçuí, no sul do Espírito Santo, para denunciar agressões. Na véspera da votação (14.nov.2020), cabos eleitorais da candidata derrotada à prefeitura Simone Biondo (DEM) tentaram arrancar o celular das mãos da apresentadora e repórter, que cobria a movimentação dos militantes numa praça. Segundo informações do sindicato capixaba e confirmadas pela Abraji pela jornalista, ela foi empurrada e ameaçada.

No Recife, a jornalista Lara Tôrres, do site Leiajá, afirma ter sido hostilizada por moradoras de uma rua próxima a uma seção eleitoral, na zona zul da capital de Pernambuco. Três mulheres que distribuíam santinhos de candidatos na calçada de uma casa ameaçaram processar a repórter depois que ela começou a gravá-las com o celular.

“Sabia que estavam fazendo boca de urna, que é crime eleitoral. Mesmo me identificando como jornalista, com crachá exposto, elas me agrediram verbalmente e disseram que eu não tinha direito de registrar o ato”.

De acordo com a Constituição Federal, a permissão para gravar imagens em locais públicos deriva do direito à informação (artigo 5º, IV, VIII e IX e art. 220 da CF), especialmente quando se trata da cobertura jornalística de fato com natureza de interesse público.

Assinatura Abraji