Jornalista trans no interior da Bahia sofre perseguição de funcionário da prefeitura
  • 04.11
  • 2021
  • 11:20
  • Heloisa Fortes

Liberdade de expressão

Jornalista trans no interior da Bahia sofre perseguição de funcionário da prefeitura

Foto: Reprodução/Facebook


Foto: Reprodução/Instagram

Alana Rocha, apresentadora do programa Hora da Verdade do Jornal da Gazeta FM, de Riachão do Jacuípe, a cerca de 200 km de Salvador, denunciou ter sofrido ofensas e perseguição de um funcionário da prefeitura de sua cidade, no dia 1.nov.2021. Com seu celular, ela gravou o episódio e postou o vídeo em suas redes sociais. As imagens mostram um homem de capacete, camisa, bermuda e chinelos conduzindo uma motocicleta que passa ao lado do carro em que se encontrava a jornalista. Segundo ela, o homem teria feito xingamentos transfóbicos, além de ter criticado o modo como ela realiza seu trabalho. 

A jornalista afirmou à Abraji que o fato de ser uma mulher trans desperta o preconceito de algumas pessoas, que “tentam atingir minha imagem de mulher e desconstruir a minha identidade de gênero". Ela disse ainda que muitos não aceitam uma pessoa trans em uma posição de destaque. 

Alana Rocha trabalhou em Salvador na TV Aratu até out.2018. A partir daí passou a trabalhar em sua cidade natal, que tem cerca de 30 mil habitantes. Em seu programa e blog Hora da Verdade, a jornalista faz críticas à administração pública local. “O programa já tem o histórico de dar voz à população, seja na esfera criminal, seja referente a problemas de segurança ou mesmo de gestão. E isso incomoda as autoridades”, afirmou.

A apresentadora responde a cinco processos judiciais. Quatro envolvem supostos crimes de calúnia, injúria e difamação, sendo que dois partiram de secretários municipais. Ela disse que todos os processos foram movidos por apoiadores do grupo político do prefeito Carlinhos Matos (Democratas).

Em seu Instagram, Alana Rocha postou um vídeo em que recrimina o ocorrido. Ela relaciona os xingamentos com o Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, comemorado no dia 2.nov.2021, data da publicação. 

Foto: Reprodução/Instagram

Ameaças

Em entrevista à Abraji, a jornalista contou ter recebido mensagens por meio de terceiros, que circularam em grupos de Whatsapp e que falavam dela. “Disseram que eu falo demais, que não apuro as coisas. Tentam me desqualificar para me calar ou fazer com que eu desista”, comentou.

Entre as mensagens que recebeu e a que a Abraji teve acesso, uma delas defendia o prefeito Carlinhos Matos e a primeira-dama, Alessandra, enquanto ofendia Alana Rocha, chamando-a de “vagabunda” e “viada”. O áudio ainda afirma: “Ela [Alana] esculhamba todo mundo. Vai ter uma hora que tem que calar a boca dela”. Alana registrou boletim de ocorrência na delegacia. 

Mesmo tendo divulgado o episódio dos xingamentos em suas redes, as agressões continuaram. No dia 02.nov.2021, a irmã do funcionário da prefeitura que a ameaçou publicou em seu perfil no Facebook três postagens com frases provocativas: “Ele não pode fazer nada com vc, mas venhe [sic] até a mim [sic] de mulher pra mulher já é que vc diz [sic]”.

Foto: Reprodução/Instagram

Assinatura Abraji