Jornalista pede responsabilização da prefeitura por agressão sofrida em evento público
  • 30.10
  • 2023
  • 14:48
  • Abraji

Liberdade de expressão

Jornalista pede responsabilização da prefeitura por agressão sofrida em evento público

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) incluiu um caso em seu Programa de Proteção Legal para Jornalistas. A jornalista Sara York passou a ser acompanhada pelo projeto, que garantiu sua defesa no processo em que busca responsabilizar a prefeitura de São Pedro da Aldeia (RJ) por agressões sofridas no Carnaval deste ano. 

No domingo de Carnaval (19.fev.2023), a repórter Sara York foi agredida fisicamente por um dos secretários da prefeitura e por seguranças quando tentava fotografar, do palco, o evento municipal. Ela já havia sido autorizada a estar no local, mas levou uma gravata e foi retirada de lá à força. Os responsáveis foram identificados como o secretário de Ordem Pública, Diego Alves, e alguns seguranças. Na época, a Abraji já havia manifestado publicamente seu repúdio a essa agressão transfóbica. 

York é uma mulher travesti, com baixa visão, e, como repórter, faz a cobertura do Carnaval da cidade desde 2013, quando passou a residir no município. Ela é responsável, especialmente, pela foto panorâmica do evento, que se tornou tradição nesses últimos anos. A jornalista relatou hostilidade e abordagens intimidatórias em outros dias do evento, que culminaram no episódio de domingo. Alguns dias após o Carnaval o prefeito da cidade, Carlos Fábio da Silva, em uma live, continuou a criticar e descredibilizar a imagem de York. 

Um processo judicial foi movido contra a prefeitura pedindo a retratação pública através das mídias oficiais do município, além de uma indenização pecuniária pelos danos morais sofridos com o ocorrido. A defesa é feita pelo escritório de advogados Flora, Matheus e Mangabeira Sociedade de Advogados. Além disso, a advogada Daniella Ramos acompanhou a jornalista em uma representação criminal contra as autoridades envolvidas. 

“Tenhamos clareza quanto ao que é discutido no caso em tela: trata-se de agressão física e humilhação pública contra jornalista no seu exercício profissional de informar. Insistimos que tal agressão corrobora em uma tentativa de censurar o trabalho jornalístico”, afirma a petição inicial do processo cível. 

O caso não é isolado. Segundo monitoramento da Abraji, em 2022, jornalistas, homens e mulheres, cis e trans, foram vítimas de 557 restrições à liberdade de imprensa no Brasil. Cerca de um terço desses episódios envolveu agressão física, intimidação, ameaças e/ou destruição de equipamentos. No total, agentes do Estado estiveram envolvidos como agressores em 56,7% dos casos. Em 2023, a tendência da proeminência das agressões físicas continua. Um relatório da associação mostrou que os primeiros meses do ano já haviam registrado uma diferença de 46,8% entre os casos de agressões físicas e verbais.


Sobre a jornalista 

Sara Wagner York é jornalista, pessoa com deficiência visual e mulher travesti. Com uma extensa carreira acadêmica nacional e internacional, é professora na Faculdade de Pedagogia da UERJ, onde recebeu o título de mestra em Educação e especialista em Gênero e Sexualidades pelo Instituto de Medicina Social. É especialista em Orientação Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção Escolar pelo ISV. Graduada em Letras – Literatura Inglesa (Licenciatura/UNESA), Pedagogia (Licenciatura/UERJ) e Letras Vernáculas e Literaturas Brasileiras, Portuguesas e Africanas em Língua Portuguesa (Licenciatura/UNESA). Recentemente, também se graduou em Jornalismo (UNESA). 

É considerada a primeira âncora trans do jornalismo brasileiro através da mídia e colunista do portal Brasil 247. Foi premiada por sua atuação profissional e acadêmica, como reconhecimento da Universidade Estácio de Sá (2017), Câmara Municipal do Rio de Janeiro/RJ (2021 e 2023) e da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (2023). 

Sobre o Programa de Proteção Legal

O Programa de Proteção Legal para Jornalistas é uma iniciativa criada e mantida pela Abraji com apoio da organização internacional Media Defence. O programa faz a ponte entre jornalistas e advogados, para garantir a sua defesa na Justiça, tanto na resposta aos processos quanto na apresentação de ações para defender o seu exercício profissional. Além de financiar os honorários dos advogados, a equipe do programa acompanha, divulga e dá suporte para o caso. A prioridade é concedida a casos de jornalistas que atuam fora dos grandes centros urbanos e profissionais freelancers. 
Conheça outros profissionais acolhidos pelo programa neste link.
As inscrições para o programa podem ser feitas por este formulário ou através do email [email protected].

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