
- 22.08
- 2025
- 17:41
- Ramylle Freitas
Formação
Liberdade de expressão
Jornalismo em cena: como foi produzido o documentário sobre os homenageados do Congresso da Abraji
Na 20ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, a Abraji prestou homenagens aos jornalistas que marcaram a história do evento e do jornalismo brasileiro por suas contribuições à profissão. Um documentário especial foi exibido durante a cerimônia de encerramento do primeiro dia de atividades. A solenidade contou com a presença de alguns dos jornalistas homenageados, a diretoria e a equipe da Abraji e participantes do Congresso.
Clique aqui para assistir ao documentário.
A produção reuniu imagens de arquivo e depoimentos inéditos de profissionais que, ao longo das duas últimas décadas, foram homenageados pela Abraji. Ao total, 21 nomes foram reconhecidos, mais uma vez, como pilares da profissão. Participaram presencialmente da 20ª edição os jornalistas Carlos Wagner, Dorrit Harazim, Elaíze Farias, Angelina Nunes, Fabiana Moraes, Kátia Brasil, Míriam Leitão e Rosental Calmon Alves.
O documentário apresenta um pouco da trajetória de cada homenageado a partir de relatos deles próprios e de colegas de profissão. Em uma de suas falas, Míriam Leitão (homenageada no 14º Congresso, em 2019) compartilha: "Quando eu entrei [na redação], precisei só de 24h para saber que aquilo era o que eu queria fazer pelo resto da minha vida.” Já Carlos Wagner (homenageado no 12º Congresso, em 2017), conta: “Eu não me perdi na vida porque me encantei pela arte de escrever.” Declarações como essas demonstraram que mesmo sendo profissionais com trajetórias distintas, todos têm em comum a paixão pelo jornalismo.
Processo de produção
Diego de Godoy, responsável pela direção e montagem do documentário, conta que o filme foi construído a partir da costura de trechos dos documentários anteriores e entrevistas realizadas ao longo desses 20 anos com os homenageados e seus colegas. Ele destaca que a principal preocupação para construir a narrativa foi encontrar pontos em comum nos depoimentos e nos conteúdos de cada material.
Segundo Godoy, o processo da montagem do documentário fluiu de maneira tranquila, pois os arquivos contavam com conteúdos muito robustos e boas argumentações.
“As falas eram sempre muito interessantes, então era até um deleite. Na verdade, o corte final teve 33 minutos, justamente porque tudo era muito relevante. O principal trabalho do montador é saber cortar sem perder o essencial, e a gente tinha um material muito bom para trabalhar. O processo de montagem também contou com a confiança e contribuição da equipe de produção do Congresso e da diretoria da Abraji.”
Além disso, a realização deste documentário só foi possível graças a colaboração dos seguintes profissionais:
Curadoria: Katia Brembatti, Maiá Menezes, Elvira Lobato, Adriana Garcia, Gabi Coelho, Thiago Assunção e Laura Toyama.
Direção: Diego de Godoy
Direção executiva: Gabi Coelho
Roteiro: Jota Carmo
Montagem: Diego de Godoy
Assistência de montagem: Francisco Caselani
Trilha sonora: Envato
Finalização: dgdgd.tv
Produção: dgdgd.tv
Conheça os homenageados do 20º Congresso
Angelina Nunes
Angelina Nunes nasceu dentro de um trem da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, quando os pais tentavam chegar ao hospital. Em 1982, tornou-se jornalista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Repórter rigorosa na apuração, recebeu prêmios internacionais de jornalismo, como Rey de España, IPYS e SIP, e nacionais, como Esso, Embratel, Vladimir Herzog e CNH. Fez carreira no jornal O Globo. Foi presidente da Abraji no biênio 2008-2009 e coordenadora do Programa Tim Lopes de junho de 2017 a março de 2025.
Carlos Wagner
Ao longo da carreira, Carlos Wagner se engajou principalmente na cobertura de conflitos agrários, migrações e crime organizado de fronteira. Gaúcho, fez carreira como repórter investigativo no Jornal Zero Hora durante 31 anos. Recebeu 38 prêmios de jornalismo, entre eles sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Atualmente, escreve no blog “Histórias mal contadas", que criou para ajudar jovens repórteres a apurar o olhar para o mundo.
Caco Barcellos
Caco Barcellos é autor de obras que inspiram gerações de jornalistas: “Rota 66, Abusado e Nicarágua: a revolução das crianças”. Com cinco décadas de carreira, é repórter e diretor do "Profissão Repórter", da TV Globo. Caco criou bancos de dados, desenvolveu técnicas de investigação inovadoras, pilotou apurações exaustivas, ressignificou o telejornalismo e trouxe à tona informações que revelaram abusos cometidos pelas forças de segurança no país.
Clóvis Rossi
Clóvis Rossi, que sempre preferiu a reportagem à edição, participou da cobertura de eventos históricos, como o fim do regime franquista na Espanha. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíadas e foi correspondente da Folha de S.Paulo em Buenos Aires e Madri. Ganhou prêmios jornalísticos de destaque, como o Maria Moors Cabot, da Universidade de Columbia, e o da Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano, criada pelo escritor Gabriel García Márquez. Foi uma das vozes mais potentes na análise política e fiscalização dos poderosos. Rossi faleceu em 2019, aos 76 anos.
Dorrit Harazim
Jornalista e documentarista, Dorrit Harazim cobriu olimpíadas, guerras, crises geopolíticas e eventos históricos como o golpe no Chile, a crise do petróleo e a Guerra do Vietnã. Trabalhou nos principais veículos de comunicação do país e participou da criação da revista Veja e da piauí. Ganhou quatro prêmios Esso e foi a primeira brasileira a receber o Prêmio Gabriel García Márquez de Jornalismo. Lançou em 2016 o seu primeiro livro, O instante certo. Atualmente, é colunista no Jornal O Globo.
Elio Gaspari
Nascido em Nápoles em 1944, na Itália, o jornalista Elio Gaspari mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro. Trabalhou em veículos como Diário de São Paulo, revista Veja e Jornal do Brasil. Atualmente é colunista dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, onde escreve sobre política e os bastidores do poder. É um dos maiores pesquisadores sobre a ditadura do país, sendo autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".
Elaíze Farias
De origem indígena, Elaíze Farias nasceu no município de Parintins, no Amazonas. Cofundadora da Amazônia Real, primeira agência de jornalismo independente e investigativo na região amazônica brasileira, a jornalista é referência na cobertura de violações de direitos de povos indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais, além de ameaças neocoloniais à Amazônia, sua biodiversidade e modos de vida. Seu trabalho recebeu diversos prêmios e reconhecimentos.
Elvira Lobato
Elvira Lobato começou a trabalhar como repórter ainda antes de se formar: em 1973, quando estreou na coluna social da Gazeta do Povo. Tem 50 anos de experiência como repórter, sendo 39 deles no jornalismo impresso diário. Entrou na Folha de S.Paulo em 1984 e, de 1990 a 2011, foi repórter especial no veículo. Além de jornalista, é autora dos livros Instinto de Repórter e Antenas da Floresta, e vencedora de prêmios como Embratel, CNT e Esso.
Fabiana Moraes
Pernambucana nascida no Alto José Bonifácio, em Recife, Fabiana Moraes é jornalista, escritora, professora e pesquisadora. Autora de sete livros, venceu três prêmios Esso de Jornalismo. Também foi três vezes finalista do Prêmio Jabuti, na categoria livro-reportagem. Fabiana acumula experiências profissionais em veículos como Jornal do Commercio, UOL, revista piauí e, atualmente, como colunista em The Intercept Brasil e na revista Gama.
Janio de Freitas
Janio de Freitas foi responsável por uma das investigações de maior impacto no jornalismo brasileiro ao revelar a fraude na licitação da ferrovia Norte-Sul, em 1987. A reportagem lhe rendeu cinco prêmios de jornalismo, entre os quais o Esso e o Prêmio Internacional Rey de España. Passou por Jornal do Brasil, revista Manchete, Correio da Manhã, Última Hora e Folha de S.Paulo, onde sempre seguiu com a análise crítica aos poderes. Atualmente, escreve no Poder360.
Joel Silveira
Aos 14 anos, Joel Silveira iniciou sua carreira em um jornal de operários da indústria têxtil de Aracaju. Ao longo de mais de 60 anos de jornalismo, passou por dezenas de veículos e escreveu diversos livros de reportagens, contos e crônicas. Foi para a Alemanha cobrir a 2ª Guerra Mundial e retornou dizendo: “Fui para lá com 27 anos e, apesar de ter ficado onze meses, voltei com 40. A guerra amadurece”. Silveira foi homenageado pela Abraji em maio de 2007 e faleceu três meses depois, aos 88 anos.
José Hamilton Ribeiro
José Hamilton Ribeiro foi homenageado no primeiro Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em 2005. Com uma carreira de mais de seis décadas marcada por reportagens de profundidade e sensibilidade, atuou em veículos como Realidade, Folha de S.Paulo, Globo Rural e Globo Repórter. Publicou também mais de 15 livros. Ficou conhecido por coberturas como a da Guerra do Vietnã, durante a qual perdeu parte da perna ao pisar em uma mina, e por contar histórias do povo brasileiro. Recebeu sete prêmios Esso.
Katia Brasil
Nascida em Fortaleza e criada no Rio de Janeiro, Katia Brasil desenvolveu a maior parte da carreira na Amazônia, onde trabalhou como correspondente dos jornais O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Junto com Elaíze Farias, Katia fundou a Amazônia Real, pioneira em jornalismo investigativo e independente na Amazônia brasileira. Recebeu os prêmios Esso Regional Norte, Women Journo Heroes da IWMF, Comunique-se e Prêmio Vladimir Herzog.
Lúcio Flávio Pinto
Lúcio Flávio Pinto é uma referência no jornalismo investigativo sobre a região amazônica. Fundador do Jornal Pessoal, que lançou sozinho em 1988, incomodou tanto os poderosos que se tornou alvo de dezenas de processos judiciais por suas reportagens sempre embasadas com muita apuração. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu o prêmio Colombe d’Oro per la Pace e o Prêmio Internacional do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ). Também foi reconhecido com quatro Prêmios Esso.
Marcelo Beraba
Marcelo Beraba foi um dos fundadores da Abraji em 2002 e presidente da organização de 2003 a 2007. Foi diretor do Grupo Estado em Brasília. Trabalhou em O Globo, no Jornal do Brasil, na TV Globo e na Folha de S.Paulo, onde exerceu, entre outras funções, a de ombudsman. À frente das redações, coordenou e planejou grandes coberturas, como as primeiras eleições presidenciais depois do fim da ditadura. Em 2005, recebeu o Prêmio Excelência em Jornalismo do ICFJ.
Marcos Sá Corrêa
Em 1975, usando documentos divulgados pela biblioteca Lyndon Johnson, nos EUA, Marcos Sá Corrêa revelou a colaboração da CIA com o golpe militar de 1964, por meio da Operação Tio Sam. Trabalhou nos mais tradicionais jornais e revistas do país: Estado de São Paulo, foi editor-chefe do Jornal do Brasil, diretor de redação de O Dia e editor da revista Veja e da piauí. Em 2004, fundou o site ((o))eco, dedicado exclusivamente ao jornalismo ambiental.
Míriam Leitão
Entre o jornalismo e a literatura, já são mais de cinco décadas de carreira. Míriam Leitão acompanhou de perto planos econômicos, crises, impeachments e a redemocratização. Há 34 anos atua no grupo Globo como colunista de O Globo e comentarista da TV Globo, GloboNews e CBN. É autora de 16 livros, que vão da não ficção à literatura infantil. Em 2012, ganhou o Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Reportagem. Neste ano, tornou-se imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Paulo Totti
Paulo Totti iniciou a carreira no jornalismo aos 14 anos, no Rio Grande do Sul. Ao longo de décadas, construiu uma trajetória pautada pelo talento, pela elegância ao escrever e pela ética. Passou por veículos como Última Hora, O Globo, Gazeta Mercantil e Valor Econômico, além de ter participado da fundação da revista Veja. Atuou como correspondente internacional e repórter especializado em economia. Ganhou o Prêmio Esso em 2007 por uma série sobre a China. Faleceu em 2024, aos 85 anos.
Rosental Alves
Rosental Alves iniciou sua carreira de repórter em 1968, aos 16 anos, produzindo um jornal de sua escola no Rio de Janeiro. Jornalista e professor brasileiro, é membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e titular da Cátedra UNESCO em Comunicação e da Cátedra Knight de Jornalismo na Escola de Jornalismo da Moody College of Communication, da Universidade do Texas em Austin. Lidera a equipe do Knight Center e está sempre em movimento por mais transparência pública e pelo aprimoramento do fazer jornalístico.
Tim Lopes
Tim Lopes era conhecido por seu jornalismo imersivo e por utilizar disfarces para revelar realidades ocultas. Trabalhou no O Globo, O Dia, Placar e na TV Globo, onde realizava matérias com câmera escondida. Em 2002, enquanto apurava uma denúncia em uma favela do Rio de Janeiro, foi sequestrado e assassinado por traficantes. Sua morte chocou o país e impulsionou discussões sobre a segurança dos jornalistas, e foi também um dos fatores que levaram à criação da Abraji naquele mesmo ano.
Zuenir Ventura
Formado em Letras Neolatinas pela UFRJ, Zuenir Ventura foi parar no jornalismo após escrever o obituário do escritor francês Albert Camus. O texto acabou fazendo sucesso e ele “desceu” do arquivo do jornal, no 3º andar, para a redação, no 1º. Nunca mais subiu. Com mais de 60 anos de profissão, passou por Correio da Manhã, Cruzeiro, Jornal do Brasil, Visão, Veja, Istoé e outros veículos. Desde 2015, a Academia Brasileira de Letras (ABL) tem Zuenir como imortal da cadeira 32.
*Foto: Melvin Quaresma/Abraji