• 22.09
  • 2008
  • 16:39
  • Abraji

Diretora da Abraji relata impressões da Global Investigative Journalism Conference

Cem seminários em cinco dias. A maratona do Global Investigative Journalism Conference (GIJC), que aconteceu em Lillehammer, na Noruega, de 11 a 14 de setembro, foi acompanhada pela jornalista Liege Albuquerque, membro da diretoria da Abraji. “Foi impossível assistir a todas, e mesmo escolhendo uma entre as seis ou oito a cada duas horas e meia, a gente sempre acha que está perdendo alguma coisa interessante na outra sala”, disse.

As aulas de Computer Assisted Reporting (CAR) fizeram os organizadores providenciarem classes extra, como a de Online Bloodhound, que ensinava como os mecanismos de busca da internet “pensam” e como tirar o melhor proveito das buscas no Google.

Um dos seminários mais concorridos foi o que colocou frente a frente o ex-jornalista da CBS Lowell Bergman (que inspirou o personagem de Al Pacino em ´O Informante´) e sua fonte, o norueguês Per-Yngve Monsen. “É o que aconselho a qualquer pessoa que quer evitar problemas: não seja um informante”, disse Lowell à platéia.

O jornalista explicou no seminário que não teve trabalho em conquistar sua fonte, que estava “ávido para falar” em sua investigação sobre pagamentos indevidos na Siemens. E aconselhou, sob o tema do seminário, “Como fazer sua fonte falar”: “O mais importante é escutar a pessoa, colocar-se no lugar dela, em seus sapatos. A segunda coisa é ser honesto, não fazendo promessas que você não pode cumprir”, afirmou.

Embora Bergman e Monsen já tivessem dado entrevistas separadamente, o inédito foi ver ali fonte e jornalista, mostrando sem reservas seus papéis. “Eu não faria tudo de novo: fui demitido, respondo a processos até hoje, além de todos os outros distúrbios pessoais”, afirmou Monsen.

Outro seminário que atraiu boa parte dos quase 500 jornalistas de 88 países que participaram da Conferência foi o do jornalista Robert Fisk, que relatou sobre suas coberturas do oriente médio. A visão crítica e nada deslumbrada de seu trabalho levantou aplausos. “O mundo está cheio de clichês sobre o que ocorre na verdade: é guerra, com sangue e mortes diárias, e não uma partida de futebol”.

Com a experiência de 30 anos de cobertura na área, Fisk declarou: “Quando atravesso o Atlântico aos Estados Unidos percebo que nos separa uma cortina de vidro. O oriente médio não tem idéia do que falam deles nos jornais ocidentais e vice-versa. Há dois grupos de pessoas que não estão se ouvindo”.

De todos os seminários, certamente o que mais causou emoção aos jornalistas foi o do cameraman da Al-Jazeera Sami Al-Hajj, que ficou preso seis anos em Guantánamo. Lá, sofreu torturas morais e físicas. “Nossa missão como jornalistas é trazer a verdade à tona, seja de onde for”, disse o jornalista, que foi, segundo seus advogados, a melhor fonte sobre as violações diárias dos direitos humanos de dentro da prisão norte-americana em Cuba.

Al-Hajj foi solto em maio deste ano depois de 17 meses de greve de fome. No final de sua apresentação, foi anunciado que o jornalista iria receber, em novembro, o prêmio anual de Liberdade de Imprensa do Canadian Journalists for Free Expression’s por causa de “sua coragem e força que demonstrou sob opressão extraordinária e por seu colocar sua história como meio de advogar pelos direitos dos jornalistas”.

Global Investigative Journalism Network

O Global Investigative Journalism Network, do qual a Abraji é sócia-fundadora, ajuda a organizar conferências e workshops especialmente em RAC (reportagem assistida por computador) para jornalistas no mundo todo. É uma organização com mais de 30 associações independentes do globo.

Veja as seguintes apresentações exibidas durante a GIJC:

1. palestra ´"How to get people to talk, John Nicol", CBC, Canada.
2. palestra ´The ABC of investigative journalism, por Nils
Hansson, da Swedish Television
3. palestra ´Tell how people lie; Learn to read the
body language of your sources", por Drew Sullivan e Geoff Kay

Assinatura Abraji