Cresce em 50% número de jornalistas mortos em todo o mundo
  • 07.02
  • 2023
  • 19:04
  • Caê Vatiero

Liberdade de expressão

Cresce em 50% número de jornalistas mortos em todo o mundo

O ano de 2022 foi marcado pelo aumento de 50% no número de jornalistas mortos em decorrência do exercício profissional ou em acidentes de trabalho. De acordo com o relatório anual Killing the Messenger, divulgado na última terça-feira (31.jan.2022) pelo International News Safety Institute (INSI) em parceria com a Cardiff School of Journalism, ao menos 85 profissionais de imprensa de todo o mundo morreram no ano passado.

O relatório aponta que a maioria dos jornalistas foi baleada (50) ou vítima de carros-bomba, mísseis, esfaqueamentos ou espancamentos. A guerra da Ucrânia está entre as razões para esse aumento — pelo menos 14 jornalistas, locais e estrangeiros, morreram nas primeiras semanas do conflito em 2022.

Pelo quarto ano consecutivo, o México lidera o ranking dos países mais perigosos para jornalistas, com 16 profissionais mortos. O levantamento registra que este não é um fato isolado, tendo em vista que o número de casos na América Latina triplicou em comparação ao ano anterior. A diretora do INSI, Elena Cosentino, avalia que os ataques à imprensa por parte do governo Bolsonaro contribuíram para a violência contra jornalistas na região. 

“É impossível não ver uma conexão, por exemplo, entre os assassinatos na Amazônia do jornalista britânico Dom Phillips e do especialista Bruno Pereira, e a retórica do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro que, durante anos, fomentou hostilidade e, muito possivelmente, violência contra jornalistas e conservadores”, afirma Cosentino.

A pesquisa do INSI ainda ressalta que entre os assassinatos mais preocupantes de 2022 está o caso da repórter Shireen Abu Akleh, do jornal Al Jazeera, baleada pelo exército israelense enquanto realizava a cobertura de um confronto na cidade palestina de Jenin, na Cisjordânia. A jornalista foi alvejada por militares mesmo utilizando um colete à prova de balas com a palavra "imprensa" e um capacete.

Outros monitoramentos

Um levantamento realizado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) aponta a América Latina como a região mais letal para jornalistas em 2022. Foram identificados 30 jornalistas mortos, respondendo por quase metade dos 67 casos registrados. Os dados mostram que os profissionais que cobrem crime, corrupção, violência armada e meio ambiente são os que correm maior risco. 

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) também divulgou números preocupantes. As estatísticas apontam que, com 86 casos, um jornalista foi morto a cada quatro dias. O informe também ressalta que a América Latina e o Caribe concentram mais de 50% dos crimes e ainda destaca três casos que ocorreram no Brasil — dos jornalistas Givanildo Oliveira, Dom Phillips e Luiz Carlos Gomes.

Os assassinatos de Givanildo Oliveira e de Dom Phillips estão sendo acompanhados pelo Programa Tim Lopes, iniciativa criada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em 2017, com o objetivo de dar continuidade às reportagens interrompidas de jornalistas assassinados no Brasil. 

O Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, lançado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), registrou que a violência política no Brasil atingiu de forma brutal os jornalistas e comunicadores do país. O número de ataques no ano passado chegou a 376; e o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o principal agressor, sendo responsável por 104 casos. 

Em março, a Abraji lançará a segunda edição do relatório de monitoramento de ataques a jornalistas no Brasil, com a consolidação e análise dos dados coletados ao longo do ano de 2022, que inclui informações do projeto Violência de Gênero contra Jornalistas. O levantamento ainda contará com um capítulo especial sobre o panorama das agressões contra profissionais de imprensa durante o período eleitoral.

“Os dados mostram os principais desafios e ameaças para o exercício da profissão no Brasil e indicam as principais recomendações para o poder público, as plataformas, as empresas de jornalismo e para os próprios jornalistas”, explica a assistente jurídica da Abraji, Leticia Kleim. 
 


 

 

 

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