Congresso da Abraji inspira trabalho colaborativo
  • 06.05
  • 2019
  • 12:00
  • Natália Silva

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Congresso da Abraji inspira trabalho colaborativo

O Projeto Colabora, a Ponte Jornalismo e a Amazônia Real se juntaram para contar histórias de brasileiros privados de direitos básicos, como saúde, alimentação e moradia. De acordo com o relatório do IBGE que serviu de base para a pauta, 65% da população não tem acesso às garantias previstas na Constituição.

A ideia de realizar um pool — expressão em inglês que designa trabalho em conjunto — surgiu durante o 13º Congresso da Abraji, realizado em jun.2018, por conta das palestras sobre jornalismo colaborativo conduzidas por Stephen Engelberg, editor-chefe da ProPublica, e Guilherme Amado, vice-presidente da Abraji. Adriana Barsotti, repórter do Colabora, participou dos debates e decidiu transformar uma reportagem que estava em andamento em algo maior.

O vice-presidente da Abraji afirmou durante sua palestra que o Colabora teria condições de coordenar um pool e, segundo Barsotti, os efeitos foram imediatos. Fausto Salvadori, da Ponte Jornalismo, a procurou em seguida para propor uma parceria entre os veículos. “É aí que você percebe como os congressos são importantes. As pessoas acabam se aproximando e trocando ideias”, comenta Barsotti.

A parceria com a Amazônia Real já estava estabelecida, por conta de trabalhos feitos em outros momentos. Kátia Brasil, cofundadora e repórter da agência focada na cobertura da Amazônia, afirma que “a colaboração veio para ficar” e destaca que a união dos veículos amplia a audiência das reportagens. Salvadori também defende que o resultado final do trabalho em conjunto — o especial “Os Brasileiros sem direitos”, com sete reportagens sobre o tema — foi melhor do que o que cada veículo poderia ter feito individualmente.

Para Barsotti, o sucesso do pool é explicado pelo “espírito de não ficar enxergando o outro veículo como concorrente”, e sim como aliado. Enquanto a audiência do Colabora está concentrada principalmente no Rio de Janeiro, a Ponte — baseada em São Paulo — e a Amazônia Real permitiram que o alcance das reportagens fosse amplificado. “Fiquei muito satisfeita com o resultado”, diz ela. “Gostaria que outros veículos se inspirassem nesse modelo, porque aumentaria a repercussão”.

Adriana Barsotti destaca a importância da colaboração para estruturar uma ideia mais ampla da pauta. O relatório do IBGE sobre direitos básicos não incluía o direito à vida, o que só foi abordado nas reportagens por sugestão de Fausto Salvadori. O jornalista defende que sem a menção à violência do Estado e a participação da Amazônia Real, o resultado ficaria mais limitado. Durante o processo de produção das reportagens, cada veículo arcou com os próprios custos, e a comunicação entre os jornalistas era transparente: todo o material apurado era compartilhado.

Salvadori acredita que o trabalho colaborativo deu certo devido à generosidade dos jornalistas envolvidos que, ao contrário do que é comum na profissão, não competiram entre si. “A colaboração mexe com uma ideia preconcebidade como o jornalismo tem que ser”, argumenta. “Uma palavra importante para a colaboração é generosidade.

Assinatura Abraji