Brasil entra na zona vermelha no ranking de liberdade de imprensa
  • 20.04
  • 2021
  • 09:55
  • Abraji

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Brasil entra na zona vermelha no ranking de liberdade de imprensa

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) lançou nesta terça-feira (20.abr.2021) o Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa, publicação anual que avalia a liberdade de imprensa em 180 países e territórios. Pela primeira vez em 20 anos, o Brasil entrou na “zona vermelha”, que sinaliza regiões do mundo onde a situação da imprensa é considerada difícil.

Segundo o relatório, o Brasil antes estava na “zona laranja”, chamada de "sensível", e passou da 107ª colocação para a 111ª, em relação ao ano passado. É o quarto ano consecutivo de queda para o país, que em 2018 ocupava a 102ª posição.

 
Mapa Mundial da Liberdade de Imprensa 2021 | Repórteres sem Fronteiras

A pesquisa, realizada desde 2002, avalia o exercício do jornalismo em 180 países, com relação ao seu desempenho em matéria de pluralismo, independência das mídias, ambiente e autocensura, arcabouço legal, transparência, qualidade da infraestrutura de suporte à produção da informação e violência contra a imprensa.

A zona vermelha que o Brasil agora ocupa tem outros 50 países. Na classificação divulgada hoje, está abaixo da Bolívia, Guiné e Moçambique. Na mesma área foram enquadradas nações conhecidas por repressão a jornalistas, como Nicarágua, Rússia, Filipinas, Índia, Turquia, Venezuela e Sudão. 

A zona branca é composta por 12 países, com Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Costa Rica liderando os cinco melhores lugares. Os com a pior classificação são Eritreia (180), Coreia do Norte (179), Turcomenistão (178), China (177) e Djibuti (176).

Situação do Brasil e América Latina

O estudo revelou uma deterioração geral da situação na América Latina. “Salvo raras exceções, o ambiente de trabalho dos jornalistas, já complexo e hostil antes da crise do coronavírus, piorou ainda mais”, diz o documento. 

“O acesso aos números oficiais sobre a epidemia tornou-se extremamente complexo devido à falta de transparência do governo de Jair Bolsonaro, que tentou por todos os meios minimizar a escala da pandemia, gerando inúmeras tensões entre as autoridades e os meios de comunicação nacionais”.

A RSF cita a iniciativa inédita de veículos brasileiros de criar um consórcio para obter informações diretamente de autoridades locais nos 26 estados do país e no Distrito Federal. Em jun.2020, os maiores jornais e portais de notícias do país (O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, G1 e UOL) formaram essa aliança para divulgar seus próprios boletins diários, como resposta à falta de transparência do Ministério da Saúde.

A RSF observou também um aumento de ações jurídicas contra a imprensa, geralmente iniciadas por políticos ou representantes do Estado, em países como Peru (91º, -1), Argentina (69º, -5) ou mesmo Brasil e Nicarágua. 

Ainda sobre o Brasil, a RSF ressalta que a banalização de discursos estigmatizantes enfraquece a profissão no país e gera ataques cada vez mais multifacetados e violentos contra os meios de comunicação: “O presidente Bolsonaro, seus filhos que ocupam cargos eletivos e vários aliados dentro do governo insultam e difamam jornalistas e meios de comunicação quase que diariamente, escancarando o desapreço pelo trabalho jornalístico”.

“O aumento das campanhas on-line de difamação, intimidação e assédio contra jornalistas, sejam elas promovidas por figuras públicas ou gabinetes ocultos, também é uma tendência forte na região, sobretudo na Colômbia e no Brasil. E os principais alvos desses ataques coordenados geralmente são mulheres jornalistas”, relata o documento.

O lançamento do Ranking será feito nesta terça-feira, às 12h, pelo horário de Brasília, por meio de uma videoconferência, que inclui a participação da jornalista brasileira Patricia Campos Mello, repórter especial da Folha e diretora da Abraji.

Foram convidados também Svetlana Tsikhanouskaya, liderança democrática na Bielorússia, principal candidato de oposição durante as eleições de ago.2020; Francis Fukuyama, professor do Centro Pesquisa sobre Democracia, Desenvolvimento e Estado de Direito da Universidade de Stanford (Estados Unidos); Kjersti Loken Stavrum, CEO Tinius Trust, presidente da Comissão Norueguesa de Liberdade de Expressão e da PEN Noruega (Noruega); Carole Cadwalladr, autora britânica, jornalista investigativa repórter especial; e Christophe Deloire, secretário geral da Repórteres sem Fronteiras (RSF).

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Assinatura Abraji