Assassinatos de Bruno Pereira e Dom Philips seguem sem respostas
  • 01.06
  • 2023
  • 09:00
  • Angelina Nunes, Caê Vatiero e Sérgio Ramalho | Imagens: Marcos Tristão

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Assassinatos de Bruno Pereira e Dom Philips seguem sem respostas

Silvana Marubo carregava, na tarde de quinta-feira, 22.jun.2022, um cartaz onde se lia "Amazônia Resiste! Quem Mandou?". Ela estava liderando mulheres indígenas em um protesto à frente da sede da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), em Atalaia do Norte (AM). A pergunta era uma referência aos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, executados havia 17 dias. Durante um ano, o Programa Tim Lopes, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), acompanhou os desdobramentos das investigações relacionadas às mortes do indigenista e do jornalista britânico no Vale do Javari. A pergunta de Silvana segue sem resposta.

Em um ano de investigações, a Polícia Federal não apresentou uma conclusão sobre quem teria mandado executar Bruno e Dom, tampouco avançou sobre as suspeitas de ligação da família do assassino confesso Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, na prefeitura de Atalaia do Norte. As falhas na condução do inquérito, atualmente sob a responsabilidade de um delegado lotado em Brasília, e do processo na Justiça Federal em Tabatinga (AM) levaram os desembargadores da 4ª Turma do TRF-1, em Manaus, a anular o processo. A decisão por unanimidade foi anunciada em 16.mai.2023, menos de um mês de os assassinatos completarem um ano. 

O município de Atalaia do Norte, onde está localizada a maior parte da Terra Indígena Vale do Javari, tem como vice-prefeito Giuliano Pinto Galate (PP), filho de Rosário Galate, madeireiro e ex-prefeito que tinha como bordão: "Índio bom é índio morto". A frase ecoou pelo município; e muitos indígenas evitavam passar à frente da casa do político. É o caso de Bushe Matis, atual coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Além de um herdeiro na política local, Galate deixou como legado uma pilha de processos onde figura como réu por improbidade administrativa e desvio de dinheiro público. Para realizar esse levantamento, a equipe contou com a parceria do Jusbrasil, serviço de tecnologia que simplifica a coleta, organização e disponibilização de informações jurídicas oficiais, abertas e públicas no Brasil.

A Abraji acompanhou de perto as consequências geradas a partir das mortes de Bruno e Dom. Desde as primeiras informações sobre o desaparecimento, na manhã de domingo, 5.jun.2022, à angústia dos líderes dos povos originários nas buscas pelos rios Itacoaí e Javari, culminando na descoberta dos corpos e nas prisões dos suspeitos. 

Nesse período, a equipe do Programa Tim Lopes esteve três vezes na região amazônica com o repórter Sérgio Ramalho e os fotógrafos Marcos Tristão e Pedro Prado, que passaram por Benjamin Constant, Santa Rosa (Peru), Letícia (Colômbia), Tabatinga, Manaus e Parintins. Ao total, foram 9.666 quilômetros percorridos para contar em uma série de reportagens o que aconteceu após a confirmação dos assassinatos. Trabalhando em São Paulo e no Rio de Janeiro, estavam o jornalista Caê Vatiero e a coordenadora do Programa Tim Lopes Angelina Nunes, respectivamente.                 

A Abraji integrou uma investigação internacional colaborativa chamada Bruno and Dom Project, coordenada pelo Forbidden Stories, consórcio de jornalistas investigativos que dá continuidade ao trabalho de profissionais de imprensa assassinados ou ameaçados. Com duração de um ano, o projeto colaborativo contou com mais de 50 jornalistas de dez países. 

Além da Abraji, compõem o projeto a Amazônia Real (Brasil), Der Standard (Áustria), Expresso (Portugal), Folha de S.Paulo (Brasil), Le Monde (França), NRC (Holanda), Ojo Público (Peru), Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP) (Global), Paper Trail Media (Alemanha), Repórter Brasil (Brasil), Tamedia (Suiça), The Bureau of Investigative Journalism (Reino Unido), The Guardian (Reino Unido) e TV Globo (Brasil). Para acessar o trabalho de todos os parceiros, clique aqui.

Acesse a seguir as reportagens produzidas pela Abraji:






 

Assinatura Abraji