A trajetória de Joel Silveira, a ‘víbora da reportagem’
  • 13.11
  • 2025
  • 16:05
  • Ramylle Freitas

A trajetória de Joel Silveira, a ‘víbora da reportagem’

Joel Silveira foi um dos grandes nomes do jornalismo no Brasil. O sergipano, conhecido pelo estilo afiado e pela coragem em abordar temas incômodos, conquistou o apelido de “víbora da reportagem”, dado pelo jornalista Assis Chateaubriand. O apelido, que a princípio o incomodava, acabou se tornando um marco em sua vida profissional.

Silveira morreu em 2007, três meses após ter sido homenageado no 2º Congresso da Abraji. Na época, ele não pôde participar da cerimônia, mas, ainda assim, se fez presente através do minidocumentário gravado especialmente para a ocasião. Clique aqui e confira a homenagem. 

Os principais acontecimentos sobre a vida profissional de Joel Silveira estão disponíveis no Projeto Inspiração, iniciativa da Abraji que visa oferecer às atuais e futuras gerações de profissionais histórias e trabalhos feitos por nomes que marcaram e ainda impactam o jornalismo brasileiro. Confira aqui.

Joel Silveira era do universo da imprensa escrita. Sua carreira atravessou redações, guerras e revoltas populares na América Latina, sempre com olhar atento às contradições sociais e com uma escrita que misturava rigor informativo e estilo literário.

Você pode conferir mais sobre o Projeto Inspiração por meio deste link: https://inspiracao.abraji.org.br/

Trajetória no jornalismo

Nascido em Lagarto (SE), em 1918, Joel Silveira começou a escrever ainda adolescente para o jornal sindical “A Voz do Operário”, em Aracaju. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, foi escriba oficial em um bordel, redigindo cartas para prostitutas analfabetas, experiência que relatou em suas memórias e que o marcou pela consciência das desigualdades sociais.

No Rio, iniciou carreira no semanário Dom Casmurro e, pouco depois, ingressou na revista Diretrizes. Nela, publicou, em 1943, a reportagem “Os grã-finos em São Paulo”, que o projetou nacionalmente. A matéria retratava, com ironia e dados precisos, a ostentação da elite paulistana.

Vinte dias após ser contratado por Chateaubriand para os Diários Associados, foi escolhido para ser correspondente junto à Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, realizou coberturas de grande impacto. E, apesar dos textos produzidos pelos correspondentes serem censurados pelo governo, ele escreveu a reportagem “Eu vi morrer o sargento Wolf”, uma das produções mais emblemáticas sobre o que viu nos campos de batalha. Silveira dizia que a guerra o marcou profundamente. Contava ter perdido a ingenuidade e que guardava na memória o “cheiro de sangue e diesel”.

Grandes produções

O jornalista costumava ir às ruas em busca de seus personagens, como na reportagem sobre a luta de uma dona de casa do Méier, bairro localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, contra o aumento dos preços nos armazéns do bairro, e publicada em fevereiro de 1943.

Durante sua carreira, assinou textos que entraram para a história do jornalismo brasileiro. Entre eles, a cobertura da revolta popular em Bogotá, em 1948, reportagem que mostrou o grande lado sensível de Silveira. O repórter também entrevistou figuras centrais da política brasileira, como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, e escreveu reportagens reveladoras sobre eles. Além disso, entrevistou autoridades religiosas e ex-integrantes do bando de Lampião.

Mesmo com os grandes sucessos em sua carreira, Silveira não escondia quando as coisas davam errado, como a fracassada tentativa de entrevistar o escritor norte-americano Ernest Hemingway em 1952. Ele estava em Paris pelo jornal Última Hora e perdeu Hemingway de vista ao ir ao banheiro.

Reconhecimento

Silveira foi preso cinco vezes durante a ditadura militar, mas nunca abandonou a inquietação que o movia. Ele também atuou na vida pública, como secretário de Cultura de Sergipe entre 1987 e 1991. Publicou cerca de 40 livros, entre memórias e coletâneas de reportagens. Em sua definição sobre a própria trajetória, resumiu a essência de sua paixão pelo jornalismo na frase: “A função do repórter é ver a banda passar. Não é fazer parte dela.”

A produção de Joel Silveira permanece como referência de coragem, profissionalismo e entrega ao jornalismo. Seu legado é lembrado não apenas nos livros que publicou, mas também na reverência de gerações de repórteres que aprenderam e continuam aprendendo com sua história.

Assinatura Abraji