• 19.06
  • 2008
  • 14:35
  • Alunos de jornalismo do UNI-BH

3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo - eixo defesa profissional

Cobertura das palestras sobre defesa profissional feita por alunos de jornalismo do UNI-BH durante congresso realizado em Belo Horizonte - maio de 2008

Jornalismo em áreas de risco: conflitos armados I 

Maria Rita Reis

A primeira palestra sobre a cobertura em áreas de risco contou com Américo Martins (BBC), João Paulo Charleaux (Comitê Internacional da Cruz Vermelha) e Luiz Felipe Kraemer Carbonell (Exército).

Américo Martins falou sobre os métodos da BBC usados nesse tipo de trabalho jornalístico. Antes de enviar um repórter para um ambiente hostil, que engloba desde países onde ocorrem conflitos armados até locais inóspitos como a Antártica, por exemplo, é feito um cálculo preciso dos riscos. A partir desse cálculo, é articulado um plano para a minimização dos perigos que envolvem a cobertura.

Geralmente, o plano de contenção de riscos para locais onde ocorrem conflitos armados tem quatro pilares-base: uma estratégia para que o repórter entre em contato com a redação, outra para que ele proteja sua fonte, locais pré-determinados em que ele pode ir sem estar inserido no exército, e um código para comunicar à redação que está em apuros.

Segundo Martins, os jornalistas enviados para esses territórios são experientes e gozam de contatos que, muitas vezes, podem lhe dar garantias, mas crachá de jornalista já não é garantia de salvo conduto.

Com a consolidação da mídia estrangeira como alvo, grandes investimentos estão sendo feitos na preparação dos profissionais que vão cobrir conflitos. Mas, na BBC, o cuidado com o jornalista não se resume à preparação e ao apoio de equipe enquanto ele está no local da cobertura. Após sua chegada, em caso de estresse pós-traumático, há todo um aparato preparado para ajudá-lo a recuperar-se. Martins, enquanto responsável por uma equipe de repórteres, também passou por cursos para saber detectar os sintomas dessa disfunção.

A BBC tem, em seu manual, uma lista de países hostis e outra de lugares onde segurança é aconselhável. O Brasil tem duas cidades que figuram na última lista, Rio de Janeiro e São Paulo.

João Paulo Charleaux explicou a diferença entre correspondente de guerra e jornalista em missão perigosa "independente" ou "unilateral". Segundo ele, o primeiro faz parte do exército, quando capturado é considerado prisioneiro de guerra.  Já o segundo goza da proteção geral dada aos civis, sem protocolo específico.

O conceito de "embeded" ou embutido também foi discutido pelo palestrante. Segundo Charleux, os militares poderiam, na prática, sentirem-se mais responsáveis pelos seus embutidos do que pelos outros jornalistas. Além da dependência do jornalista embutido por parte do exército, que pode comprometer a imparcialidade do relato.

A escolta particular também foi colocada em questão, uma vez que o risco individual diminui, mas o coletivo aumenta. As equipes jornalísticas desprotegidas ficam mais suscetíveis a ataques, pois a insurgência passa a acreditar que todas estão escoltados.

O coronel Luiz Felipe Kraemer Carbonell fez a distinção entre áreas de conflitos e territórios onde há questões de segurança pública. Segundo o militar, a situação com o tráfico não configura uma guerra.

A partir da sua experiência com as tropas brasileiras no Haiti, o coronel exaltou a importância do jornalista estar bem informado sobre o local da cobertura; inteirado de sua história, cultura e peculiaridades. Para Carbonell, outra parte fundamental de uma cobertura bem sucedida passa pelo apoio do veículo. Este deve oferecer a estrutura adequada para o profissional, equipamentos, tradutores, verba para celulares que operam via satélite, entre outros.


Jornalismo em Áreas de Risco – Conflitos Armados II

Júlia Bicalho

A segunda palestra sobre jornalismo em áreas de risco teve seu enfoque na cobertura de conflitos armados na América Latina. Os palestrantes Cristian Cantero, jornalista do Ultima Hora de Assunção, Paraguai, e Hollman Morris, jornalista colombiano que não é ligado a nenhuma empresa de comunicação, falaram sobre a situação do jornalismo investigativo em seus países.

Cantero, inicialmente, abordou questões relacionadas à fronteira do Paraguai com o Brasil, analisando a situação regional e a dura repressão aos jornalistas que investigam o narcotráfico, a venda ilegal de madeira e o contrabando de cigarros falsificados. Resultado: ao lidar com a censura, alguns jornalistas paraguaios foram assassinados friamente por organizações criminosas. Segundo Cantero, o pior é que essas barbaridades ficam impunes, já que os criminosos têm ligações íntimas com as autoridades do país, que, por sua vez, não se interessam em solucionar tais problemas.

Hollman mostrou o vídeo de uma de suas reportagens veiculadas no programa Contravía, exibido em horários arrendados pelas emissoras de TV colombianas, que não têm nenhum domínio sobre o conteúdo que é apresentado. Esse trabalho se torna especialmente interessante, uma vez que o jornalismo televisivo independente é uma prática rara em muitos países, particularmente na Colômbia.

Ameaçado de morte por várias correntes, em particular, pelos paramilitares, o jornalista foi obrigado a se refugiar na Europa. Ele afirmou que a situação dos civis é o ponto principal que deve ser abordado por quem cobre situações de conflito.
Segundo ele, a altíssima popularidade do governo é uma das maiores dificuldades para fazer jornalismo de denúncia em seu país. Por outro lado, o reconhecimento do público e o impacto que o programa Contravía causa nas comunidades que enfrentam injustiças é o combustível que subsidia o trabalho de Hollman. Apesar do noticiário estar fora do ar há oito meses, Contravía recebeu, nesse periodo, três prêmios internacionais.

Questionado sobre como manter sua segurança nas áreas de conflitos armados, o repórter foi categórico: "Em Bogotá, eu ando com escoltas armadas e carros blindados." O que, segundo ele, não é necessário: "Nas regiões de camponeses, minha segurança é fruto da credibilidade e do respeito do meu trabalho".
 
No entendimento de Hollman e Cantero, cada país tem suas particularidades no que se refere à violência e à atuação da imprensa. A interação entre os profissionais da informação mostra que existem saídas para os conflitos que envolvem a prática do jornalismo investigativo. Para eles, apesar de tudo, é possível fazer um jornalismo sério e independente.


Dano moral: direito de recurso à Justiça X liberdade de expressão

Natália Vilaça

A partir do tema “Dano moral: direito de recurso à Justiça X liberdade de expressão”, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Gilmar Mendes, e o jornalista Márcio Chaer discutiram os limites da liberdade de imprensa.

Chaer questionou a grande quantidade de processos por danos morais abertos contra jornalistas de todo o país e mostrou que muitas dessas ações judiciais são motivadas por erros do próprio repórter. Segundo ele, a falta de checagem de informações é uma das principais causas destes processos.

O ministro Gilmar Mendes ponderou que a Constituição de 1988 prega a liberdade de imprensa, mas também estabelece alguns limites. Um dos mais importantes diz respeito à violação de privacidade. Segundo Mendes, muitas vezes os jornalistas publicam informações que desrespeitam a honra das pessoas, além de pecarem pela falta de apuração de informações. A publicação de denúncias, por exemplo, sempre requer alguma comprovação.

Diante dos milhões de processos movidos contra veículos de comunicação, o ministro destacou a necessidade de os jornalistas se auto-regularem, de modo a prevenir a publicação de informações que possam causar danos a alguém, além de trabalharem melhor a questão do direito de resposta. Segundo Mendes, conquistar esse direito é extremamente difícil.

 


 

Assinatura Abraji