• 19.06
  • 2008
  • 15:57
  • Alunos de jornalismo do UNI-BH

3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo - Boas histórias

Cobertura das palestras do eixo Boas histórias feita por alunos de jornalismo do UNI-BH durante congresso realizado em Belo Horizonte - maio de 2008

BBC: Boas histórias e treinamento para investigação jornalística

Michelle Leal

O editor- executivo do Serviço Mundial da BBC de Londres, Américo Martins,  compartilhou com os presentes algumas histórias e experiências vividas por ele e pela equipe de jornalismo investigativo da BBC, a maior empresa pública de comunicação do mundo, que possui um orçamento de £ 3 bilhões, e é independente de governos e empresas comerciais.

Américo focou o seminário no uso de câmeras escondidas. De acordo com ele, a BBC adota alguns procedimentos éticos e legais que respaldam essa prática comum em sua redação. 

Alguma dessas medidas estão relacionadas a questões editoriais como “qual é o ponto de vista legal?”; “qual a justificativa para a gravação secreta?”; “quanto tempo será necessário para se ter evidências?”; “qual a possibilidade de se ter evidências incontestáveis?”; “até onde deve-se omitir quem somos?” e  “como vamos nos defender judicialmente, se necessário?”.

Segundo Américo, a BBC também leva em conta o grau de interesse público. Se há outra forma de conseguir as evidências necessárias, se existe fortes indícios mesmo antes de iniciar a investigação, é difícil justificar uma gravação secreta.

Diante desse contexto, diz: “como podemos nos justificar se formos pegos?” Américo ressaltou ainda que os repórteres investigativos da BBC não podem cometer ou encobrir atividades criminais, mesmo que sejam para conseguir qualquer informação.

O editor mostrou aos participantes o portal Panorama, que divulga apenas reportagens investigativas. Américo também exemplificou o bom uso das câmeras escondidas com casos bem sucedidos.

A reportagem The Chicken Run, do repórter Betsan Powys, por exemplo, relata o caso de uma empresa que ejetava água nos frangos para pesarem mais. Ela partiu de uma denúncia, feita contra a indústria do frango na Holanda.

Conforme Américo, para que a BBC fizesse a investigação, o programa precisava de evidências fortes, não de comentários sobre a qualidade do produto. A partir daí, o programa entrou em contato com a Food Standards Agency (FSA)  e com a Trading Standards.

O repórter foi contratado para trabalhar em uma dessas empresas. A BBC também criou uma companhia fictícia para comprar o produto.

Américo disse que as justificativas para gravações secretas eram que o setor era pouco transparente e que testes feitos pela FSA mostraram quais as companhias suspeitas. A BBC também tinha uma fonte anônima que apresentou fortes indícios de irregularidades e, principalmente, a reportagem era de grande interesse público.

Ao ser questionado se houve algum caso de investigação que foi descoberto, Américo respondeu com o exemplo da reportagem Secret Policema. Nesse caso, o repórter investigativo Mark Daly trabalhou como policial em Manchester por 18 meses, gravando casos de racismo na polícia britânica.

O repórter recebeu treinamento antes de ingressar na policia e após isso trabalhou normalmente, patrulhando as ruas e prendendo pessoas. Daly só foi descoberto e preso quase no final da investigação. 

A BBC e o repórter sempre estiveram cientes do que poderia ser feito ou não durante seu trabalho. Daly não foi condenado e a justificativa aceita foi o grande interesse público.

Américo deixou claro em sua exposição que a qualidade das investigações e do jornalismo na BBC se dá pela empresa investir em seus funcionários, proporcionado aos jornalistas cursos internos de aperfeiçoamento e “reciclagem” profissional. “A BBC não seria o que é se não investisse em jornalismo investigativo”, diz.

Boas histórias: Máfia das funerárias

Luiza Villarroel

A idéia de fazer a matéria Máfias das Funerárias surgiu durante uma conversa. "Mas idéia é uma coisa e fazer esta idéia virar uma pauta é outra bem diferente" – afirmou Eduardo Faustini, produtor e repórter investigativo do Fantástico. Ver o circo pegar fogo então!

A denúncia? Uma máfia de funerárias "papa-defunto". Em troca de um bocado de dinheiro a equipe "papa-defunto" vai à residência onde está o morto e leva o atestado de óbito. Sem que nenhum médico analise o corpo, o atestado tem a assinatura do profissional. O corpo é colocado no caixão, levado ao cemitério e enterrado.

Durante a palestra, Faustini exibiu e comentou a reportagem realizada. Uma funerária foi chamada. Figurantes e um boneco foram utilizados. E a denúncia foi feita. Grandes são os perigos que se correm. E difíceis são as escolhas que se fazem.

O produtor e repórter do Fantástico defendeu o uso da micro-câmera na TV desde que usada com responsabilidade. Declarou que o preço que se paga para seguir a profissão de jornalista investigativo é muito alto, "ando de carro blindado, três seguranças 24 horas por dia e já precisei sair do país no dia seguinte de uma matéria. Mas essa profissão é uma cachaça".

E deixou claro que o jornalismo investigativo é feito para informar, não para punir, "caso contrário o Paulo Maluf estaria na mesma cela que o Fernandinho Beira-Mar" – brincou Faustini.

Boas histórias: Os brasileiros que ainda vivem na ditadura

Luiza Villarroel

O editor Paulo Motta do diário O Globo sempre teve vontade de mostrar as pessoas de bem que moram nas favelas. O anseio deu origem a série de reportagem “Os Brasileiros que Ainda Vivem na Ditadura”.

O conjunto de matérias, que venceu o prêmio Herzog 2007, retrata a vida de 1,5 milhão de moradores de favelas e morros do Rio de Janeiro que, anos depois da Ditadura, vivem em um outro tipo de tirania: na ditadura das favelas. Locais onde os direitos são violados por grupos armados do tráfico, da milícia ou de uma polícia muitas vezes despreparada e corrupta.

Como a reportagem foi realizada e as principais dificuldades encontradas foram aspectos destacados por Motta e Dimmi Amora, durante o congresso. "Dificuldades de relacionamento com as fontes eram freqüentes. Afinal, ter que conversar com pessoas que estão sob constante ameaça é uma tarefa difícil. Algumas delas simplesmente sumiam", relatou Dimmi Amora.

Mas devido ao trabalho da equipe de edição e reportagem com Paulo Motta, Angelina Nunes, Carla Rocha, Dimmi Amora, Fábio Vasconcellos e Sérgio Ramalho, a reportagem conta com duzentas entrevistas e apresentou 20 páginas standart em oito dias de matéria. Oito histórias diferentes. Um personagem para cada direito violado.

Boas histórias: 68 destinos – Passeata dos 100 mil

Luiza Villarroel

O fotógrafo Evandro Teixeira contou os bastidores de seu novo livro "68 Destinos – Passeata dos 100 mil".

"É um livro que mistura fotografia e história" – começa Evandro. A proposta do livro não é nada simples. A partir de uma de suas fotos mais famosas – a da passeata dos 100 mil – Evandro resolveu selecionar 100 pessoas para que elas pudessem falar de suas vidas desde aquela época (1968) até os dias atuais. Mas como encontrar essas pessoas?

Anúncios foram expostos na internet e nos jornais e, após algumas pessoas se identificarem na fotografia, um longo processo de investigação teve início para a confirmação daquelas informações. O livro demorou cinco anos para ficar pronto.

Durante a palestra, Evandro contou histórias, experiências profissionais e mostrou muitas fotos, principalmente daquele que foi o período que inspirou a criação de seu livro e que o fotógrafo define como "a época em que se fotografava, corria e apanhava ao mesmo tempo".

Hoje, um total de 170 pessoas se identificou na foto de Evandro Teixeira. "Quem sabe não fazemos um próximo livro?" – brincou.

Assinatura Abraji