Abraji repudia agressões físicas a jornalistas no exercício de sua função
  • 20.05
  • 2020
  • 15:16
  • Abraji

Liberdade de expressão

Abraji repudia agressões físicas a jornalistas no exercício de sua função

O repórter cinematográfico Robson Panzera foi agredido verbal e fisicamente na manhã desta quarta-feira (20.mai.2020), quando trabalhava em Barbacena, em Minas Gerais. Ele é da equipe da TV Integração, afiliada da Rede Globo.

Por volta das 11 da manhã, Panzera registrava imagens da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) para uma reportagem sobre casos confirmados de covid-19 entre integrantes da instituição. Depois de finalizar o trabalho, a repórter Thais Fulin, que o acompanhava, retornou ao carro para escrever e gravar a reportagem. Enquanto isso, Panzera fazia imagens de apoio da fachada da escola.

Nesse momento, o empresário Leonardo Rivelli passou de carro e começou a gravar o repórter cinematográfico com o celular. Ele desceu do veículo e passou a ofender Panzera. Enquanto chutava e tentava arrancar os equipamentos do cinegrafista, Rivelli gritava “Globo Lixo” e “Vocês querem aterrorizar o país”. As agressões foram gravadas por Fulin, que chegou a pedir ajuda, mas nenhum transeunte acudiu seu companheiro de trabalho.

A polícia foi chamada e prendeu em flagrante o agressor. Foi registrado boletim de ocorrência que descreve o ataque a Panzera. Nele, Rivelli disse estar "cansado de ver a Rede Globo espalhar terror para o mundo e, ao presenciar a reportagem acontecendo, desceu [do carro] com seu aparelho celular filmando o fato, e que teria sido agredido por Robson [Panzera] com o tripé, tendo então revidado as agressões que recebera". As imagens do vídeo em nenhum momento mostram o cinegrafista atacando o empresário e sim se defendendo dele.

Depois de agredido, o cinegrafista foi encaminhado a um hospital da cidade, com ferimentos no corpo e um dedo da mão quebrado. Segundo a TV Integração, o prejuízo financeiro com a perda da câmera e do tripé chega a R$ 50 mil. 

Essa é a segunda vez, na mesma semana, que repórteres de emissoras são vítimas de atos covardes. No domingo (17.mai.2020), a repórter Clarissa Oliveira, da BandNews, foi agredida por uma mulher quando cobria manifestação em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, em frente ao Palácio do Planalto.

A jornalista aguardava para gravar quando uma manifestante a atingiu com uma bandeira. Ao jornal Folha de S. Paulo, Angela Berger, que é servidora pública, disse que a bandeirada na jornalista “foi um acidente”. A repórter registrou boletim de ocorrência, e agora a 5ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal colhe os depoimentos do cinegrafista que acompanhava Oliveira e da agressora.

A repórter afirma que o episódio não é isolado. Apesar de ter sido a primeira vez que foi agredida fisicamente durante uma cobertura, Oliveira recorda que xingamentos e ameaças têm sido constantes na cobertura de atos pró-Bolsonaro nos últimos meses. “Me diziam que, se eu falasse de Bolsonaro, jogariam tinta em mim”, recorda sobre uma das ocasiões.

A Abraji exige que as autoridades policiais apurem o ataque e punam os responsáveis. Os jornalistas, cada vez mais vulneráveis à fúria e aos desatinos de militantes radicais, precisam de segurança para trabalhar e circular, pressupostos básicos em regimes democráticos.

Líderes políticos democráticos defendem uma imprensa livre. Se os fanáticos temem os fatos e resolvem fazer justiça com as próprias mãos, instamos que os governantes cumpram, nos âmbitos federal, estadual e municipal, o que é garantido por lei e lembrado em uma cartilha do próprio governo federal. Nela está escrito que agentes do serviço público não devem adotar “discursos públicos que exponham jornalistas a maior risco de violência ou aumentem sua vulnerabilidade”.

A Abraji lembra que os casos de hoje se somam a outros episódios de violência física e verbal contra jornalistas. Recente levantamento da Abraji e da rede latino-americana Voces del Sur registrou ao menos 24 violações relacionadas ao contexto da covid19 no Brasil, no período de 01.mar.2020 a 21.abr.2020.

Diretoria da Abraji, 20 de maio de 2020.
 

Assinatura Abraji