TCC traz bastidores da cobertura de guerras
  • 24.09
  • 2018
  • 12:26
  • Rafael Oliveira

Formação

TCC traz bastidores da cobertura de guerras

Patrícia Campos Mello, Marcos Losekann, José Hamilton Ribeiro, Yan Boechat, Juca Varella, Hermano Henning e Paulo Bormann Zero: é esse o time de entrevistados do documentário “O outro lado da Guerra - A visão de quem cobre”. Apresentado durante o 13º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi realizado por Ana Paula Campos, Larissa Watanabe, Katharina Piatek, Fabio Amorim e Nayara Dantas na Universidade Anhembi Morumbi. Ao longo de 30 minutos, os entrevistados contam histórias e revelam o impacto de cobrir um conflito armado.

O grupo fez questão de diversificar as visões apresentadas no documentário. “Como critério, decidimos escolher profissionais que cobriram guerras por diferentes plataformas: revista, jornal, multimídia, televisão, cinegrafista e fotógrafo”, explica Dantas. Segunda ela, a maioria dos contatos foram passados pelos veículos em que os entrevistados trabalham, mas as redes sociais também foram úteis na busca.

Ao todo, o trabalho foi feito em quatro meses e meio, entre elaboração de pauta, roteiro, entrevistas, decupagem e edição. Tudo feito pelos então estudantes. “Nós queríamos a princípio fazer um livro reportagem, mas na Anhembi Morumbi não tinha essa opção de TCC. Como já tínhamos feito um documentário em outro semestre e gostávamos, decidimos por seguir neste formato”, explica.

O primeiro grande desafio foi compatibilizar as agendas com os entrevistados: “[Como eles] possuem agendas bem desafiadoras e viajam frequentemente, tivemos que substituir alguns nomes que nos eram importantes, o que também resultou em entrevistas com pouco tempo para a entrega do TCC”, diz a jornalista.

Apesar das dificuldades em marcar com os entrevistados, Dantas ressalta que todos os jornalistas foram solícitos e os ajudaram a “se aproximar um pouco mais da realidade da cobertura de guerra”. “Tivemos a oportunidade de ver os objetos que cada um trouxe de suas experiências em países em guerra, (...) seus equipamentos, como câmeras e roupas que utilizavam em suas viagens, além de vídeos e fotos que guardavam em seus acervos”, conta. O acervo do jornalista Yan Boechat foi especialmente útil e as imagens de conflitos e guerras que aparecem no documentário são de autoria do repórter.

Segundo Dantas, ao preparar as perguntas que seriam feitas aos jornalistas, um dos principais questionamentos que o grupo tinha era em relação às marcas que a cobertura da guerra havia deixado. “Embora tudo o que eles viveram tenha deixado muitas lembranças, nenhum tinha traumas ou sentimentos ruins. Muito pelo contrário, a maioria tem vontade de cobrir ainda por muito tempo ou sente saudades. Embora exista o medo, a vontade de cobrir, de gerar alguma mudança, é muito maior”, explica a jornalista.

Cada entrevistado é apresentado em um "passaporte" que conta sua trajetória. A arte foi feita por Fabio Amorim, um dos integrantes do grupo

A realização do documentário não convenceu nenhum dos integrantes do grupo a se aventurarem voluntariamente na cobertura de guerras, mas Dantas ressalta que, após os meses de gravação, nenhum deles negaria se um convite aparecesse. “Hoje entendemos a importância de fazê-lo. É muito mais que o número de mortos, é dar voz às pessoas que lá vivem e convivem diariamente com tantas perdas – seja da liberdade de ir e vir, de sua moradia, de um familiar ou da sua tranquilidade”, afirma.

Para o grupo, a apresentação do documentário no Congresso da Abraji foi motivo de orgulho. “É sempre muito bom ver o nosso trabalho, algo que acreditamos, sendo reconhecido. E conseguir propagá-lo para outras pessoas é sempre muito importante. Nós, como jornalistas, precisamos iniciar debates, precisamos instigar as pessoas a pensarem”, diz Dantas.

Dicas para começar o TCC
Antes mesmo de iniciar o projeto, o grupo encontrou uma dificuldade ‘burocrática’: conseguir um “sim” do orientador. Para Dantas, o primeiro conselho para quem vai começar um TCC é pesquisar bastante até se decidir por um tema. “[Além disso], pense bem nas pessoas com que fará o TCC, veja com quem já fez trabalhos antes e conseguiu se sair bem, porque sempre haverá discussão, mas ter pessoas cuja forma de trabalhar você já conhece ajuda bastante”, acrescenta. 

A jornalista também ressalta a importância de se organizar, estabelecer prazos e metas e se preparar para imprevistos, porque os prazos são apertados. No caso do grupo, a familiaridade com documentários ajudou, mas o desafio de transformar um material bruto de 30 horas em 30 minutos foi grande. “Como éramos em 5 pessoas, acabamos perdendo muito tempo tentando nos reunir para decidir cada detalhe que entraria ou não. Dividam as tarefas. Infelizmente não dá para todos fazerem tudo. Vejam quem tem mais familiaridade com cada tarefa e se dividam”, aconselha Dantas.

Ela também aponta que é fundamental escolher um tema em que se “acredite”. “No nosso caso não tínhamos familiaridade com o tema, mas buscamos o que fazia sentido para nós dentro dele. Só assim conseguirão ter prazer naquilo que estão fazendo. É preciso ter paixão, sobretudo, pela profissão que escolheram para a vida. Levar informação, conteúdo, ouvir e contar histórias”, afirma.

Assinatura Abraji