- 02.05
- 2022
- 12:33
- Abraji
Liberdade de expressão
Abandono de defesa adia júri popular de assassinato de radialista Valério Luiz pela 3ª vez
A defesa do cartola do Atlético Goianiense Maurício Sampaio abandonou nesta segunda-feira (02.mai.2022) o plenário do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) e causou o terceiro adiamento do tribunal do júri que avaliará a culpa ou inocência dos suspeitos de ter executado o jornalista esportivo e apresentador Valério Luiz de Oliveira há quase dez anos, em 02.jul.2012. O julgamento foi remarcado para 13.jun.2022. Sampaio é indicado pela investigação do Ministério Público como mandante do crime.
A denúncia afirma que o assassinato foi motivado pelas críticas constantes do profissional de imprensa à diretoria do Atlético-GO, que amargou a última colocação do Campeonato Brasileiro de 2012 enquanto parte de seus cartolas constava na lista de investigados da operação da Polícia Federal que prendeu o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Valério Luiz apresentava programas nas emissoras locais Rádio 820 AM e PUC TV Goiás.
O inquérito policial que apurou o assassinato foi aberto em 2012 e teve conclusão em fev.2013 — a ação tramita na Justiça desde então, está na segunda instância e teve desdobramentos em tribunais superiores. Acusado de ser o autor intelectual do crime, Sampaio foi detido temporariamente pela Polícia Civil em fev.2013, mas foi liberado por habeas corpus cerca de um mês depois.
Filho da vítima, o advogado e assistente de acusação Valério Luiz Filho lamentou o adiamento em coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira. "Nossa família fica presa também", disse ele, apontando para a gravidade do caso, que tem sido acompanhado de perto pela Abraji e por organizações de liberdade de expressão e imprensa.
Com o abandono do advogado de Maurício Sampaio, Luiz Carlos da Silva Neto, o magistrado responsável por presidir o júri popular Lourival Machado da Costa notificou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que deve analisar a conduta da defesa do suposto mandante. Silva Neto também foi multado em R$ 121 mil por ter deixado o plenário. O último adiamento, em março, foi exatamente porque um advogado de defesa abandonou o cliente, um dos acusados.
Procurado pela Abraji, o coordenador do Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB, Pierpaolo Bottini, afirmou que a entidade deve formar uma comissão nesta semana para estudar o caso.
A Abraji e mais seis organizações ligadas à defesa da liberdade de expressão e de imprensa pedem justiça pelo assassinato do radialista Valério Luiz de Oliveira.
Para deixar o plenário, a defesa alegou que o magistrado responsável por presidir o júri popular Lourival Machado da Costa é suspeito por ter advogado contra Maurício Sampaio nos anos 1990 e que há irregularidades na convocação dos jurados. Desde que assumiu o cartola como cliente, Silva Neto impetrou ao menos quatro habeas corpus e solicitou uma exceção de suspeição do juiz, informou Valério Luiz.
O Ministério Público afirmou que a defesa faz ações protelatórias e que os recursos dela foram todos negados. O MP pediu intimou a Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) para que essa estratégia não seja mais usada. "Caso qualquer dos advogados não compareça, desista ou abandone o plenário, um defensor público deve assumir e será dada sequência ao júri", detalha Valério Luiz Filho.
Há outros quatro réus a serem julgados: o ex-sargento da Polícia Militar Ademá Figueredo Aguiar Filho, indicado pela investigação como autor dos disparos; o policial militar Djalma Gomes da Silva; Urbano Carvalho Malta, funcionário de Sampaio; e o açougueiro Marcus Vinícius Pereira Xavier. Os três últimos são acusados de colaborar com o planejamento e a logística da execução do radialista Valério Luiz.
Foto de capa: Cena do crime contra Valério Luiz de Oliveira. Reprodução/Ponte Jornalismo
Matéria atualizada às 13h48 desta segunda-feira (2.mai.2022).